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sábado, 30 de outubro de 2010

Discos de veteranos dividem opiniões - por KID VINIL


Em um balanço geral, esse ano foi dos veteranos do rock provarem para essa nova geração que ainda sabem fazer boa música. Nomes respeitados como Robert Plant, Elton John, Steve Miller, Leonard Cohen e Neil Young, por exemplo,  lançaram grandes discos e dividiram as opiniões.
A ousadia de Robert Plant ao enveredar pelos caminhos da música folk foi elogiada e criticada ao mesmo tempo pelos fãs. Neil Young, com seu álbum “Le Noise”, deixou alguns felizes e outros irritados ao se unir ao produtor Daniel Lanois (que já  produziu nomes como U2, Bob Dylan e Peter Gabriel). O resultado é um disco criativo na opinião de alguns, mas há os que o consideraram nada mais que um exagero de efeitos de guitarra e divagações sonoras.
Outro disco que criou uma certa polêmica entre os fãs foi o 19º álbum solo de Eric Clapton, intitulado simplesmente “Clapton”. Quarenta  anos depois do lançamento de seu primeiro álbum solo, “Eric Clapton”, em julho de 1970, o nosso herói  da guitarra resgata essa fase setentista em seu novo trabalho. Abaixo, a capa do primeiro solo de Eric Clapton:
Alguns fãs reclamaram e cobraram mais ousadia em seus solos de guitarra. Se voltarmos ao passado e relembrarmos seus primeiros discos, fica mais fácil entender essa nova empreitada de Eric Clapton. Eu particularmente considero o disco de 1970 uma obra-prima que abriu caminho para clássicos posteriores, como “461 Ocean Boulevard” (74) e “Slowhand” (77). Os fãs que criticaram o disco são aqueles que esqueceram dessa fase mais ‘cool’ de Eric Clapton e ficam sempre à espera de um novo disco do Cream ou do  Derek and the Dominoes.
Nesse novo disco, Eric Clapton explora elementos do blues e do country rock e volta a gravar com JJ Cale, a inspiração  que o fez famoso na década de 70 com músicas como “After Midnight”, de seu primeiro disco, e “Cocaine”, incluída no álbum “Slowhand”. Dentre os ilustres  convidados ainda temos Steve Winwood, seu velho parceiro de Blind Faith nos anos 70, Allen Toussaint, Wynton Marsalis, Sheryl  Crow e Derek Trucks.
Também acaba de sair por aqui, pelo selo ST2, o novo álbum de Ron Wood, “I Feel Like Playing”. Ron é  um dos meus guitarristas favoritos de todos os tempos, principalmente por sua atuação no Faces na década de 70 e a partir de 1976 nos Rolling Stones.  Em  1974, começou a gravar discos em carreira solo, e seus quatro primeiros álbuns são bastante recomendáveis, como: “I’ve Got My Own Album to Do” (74), “Now Look” (75) e “Gimme Some Neck” (79).
Além de músico, Ron Wood também é artista plástico e  nunca me esqueço de uma exposição que ele fez há alguns anos em uma galeria de arte em São Paulo, na avenida Europa. As pessoas se comprimiam naquele pequeno espaço para conseguirem um de seus quadros (todos estavam à venda) e eu tentando avistá-lo no balcão inacessível cercado de seguranças. Naquela noite fui com meu amigo, o guitarrista André Christovan, que conseguiu adquirir uma de suas obras. Apesar da simplicidade a capa de “I Feel Like Playing” é assinada por Ron Wood. O disco abre com acordes que lembram alguma música do Faces, e tem um dedilhado de guitarra no início que parece também uma parte do solo de “Maggie May” (sucesso de Rod Stewart nos anos 70, onde Ron Wood era o guitarrista). Realmente, esse disco – assim como o álbum de Eric Clapton – resgata  muito de seu passado na década de 70. Tanto que Wood convidou o tecladista do Faces Ian McLagan para algumas faixas.
O novo baixista dos Stones,  Darryl Jones, acompanha Wood na maioria das músicas, mas o disco também tem convidados especiais, como Flea, do Red Hot Chili Peppers,  e Slash. Seu lado Rolling Stone é marcante no reggae “Sweetness My Weakness” e em “Lucky Man”, que traz até parceria com Eddie Vedder. Outra surpresa é a guitarra do convidado Steve Gibbons na música “Thinking About You”, que começa com um riff  inconfundível  de guitarra à la ZZ Top. A regravação do clássico do blues “Spoonfull” também ficou interessante e mais suingada, mas não supera a clássica gravação de nosso querido Eric Clapton com o Cream.
Em resumo “I Feel Like Playing” é um disco solo de um autêntico Rolling Stone, pois a coisa mais fácil é fechar os olhos e ouvir os Stones a cada acorde da guitarra de Ron Wood.
Lançado nesta semana e que também  merece um destaque por aqui é o novo álbum de Bryan Ferry, “Olympia”, que para muitos poderia ser um álbum do Roxy Music,  uma das mais importantes bandas do glam rock britânico no início dos anos 70. O grupo atravessou as barreiras do glam rock e ainda sobreviveu aos anos 80 com  o clássico “Avalon”,  lançado em 1982.
Ferry se reuniu depois de muito tempo com seus parceiros Brian Eno, Phil Manzanera e Andy Mackay – o último fruto dessa formação havia saído em 1973 com o espetacular álbum “For Your Pleasure”, do Roxy Music. Além de seus amigos de banda, temos convidados ilustres como Nile Rodgers, David Gilmour, Groove Armada e a nova geração que o venera, como a garotada do Scissor Sisters, que aparecem em “Heartache By Numbers”, uma das melhores músicas do disco. Duas regravações  em especial dão um ar mais classudo pra “Olympia”, são elas: “Song to a Siren”, de Tim Buckley, e “No Face, No Name, No Number”, do Traffic (clássica banda britânica de Steve Winwood no final dos 60 e início dos 70).
Bryan Ferry é considerado pela crítica inglesa como um “tesouro nacional” e,  assim como o Roxy Music, sua carreira é repleta de grandes álbuns. Considero seu primeiro solo, “These Foolish Things” (1973) uma preciosidade de regravações e interpretações memoráveis. Em 1985, ele também estourou nas FMs com as clássicas “Slave To Love” e “Don’t Stop The Dance”. Em 2007, fez um disco só de regravações de Bob Dylan chamado “Dylanesque”, e agora reaparece com “ Olympia”, um disco que facilmente pode ser considerado como uma continuação do clássico “Avalon”, do Roxy Music.
Para encerrar, presto um tributo à vocalista Ari Up, do grupo Slits, que faleceu dia 20 de outubro na Inglaterra. A cantora era filha de Nora Foster, atual esposa  de John Lydon (ex-Sex Pistols e PIL). Ari Up formou o trio The Slits aos 14 anos e saiu excursionado na turnê White Riot, do The Clash, em 1977. Aos 16, lançou o primeiro álbum com as Slits, o clássico do pós-punk  chamado “Cut” . O disco é uma mistura de elementos do punk com reggae e outras tendências da black music. Ao  lado de “Germ Free Adolescents”, do X-Ray Spex (1978) , “Cut” das Slits representa a ousadia dos vocais femininos e ao mesmo tempo o começo do movimento riot grrrls. A começar pela capa em que as três apareciam nuas e cobertas de lama, “Cut” trazia uma mensagem feminista, mas sem exageros, apenas cobrando o espaço devido às mulheres.
A canção “Typical Girls” é um belo exemplo da essência do trabalho do grupo. Ari Up se destacou como uma grande performer, sempre inquieta. Para muitos, é difícil acreditar que ela se foi tão cedo. Recomendo aos que não conhecem ouvirem com atenção o álbum “Cut”. Tem até uma regravação de “I Heard it  Through  the Grapevine”, sucesso com Marvin Gaye e Creedence Clearwater Revival nos anos 70). Uma faixa bem dançante que ainda faz sucesso nas pistas mais modernas.
Abaixo, o vídeo da música “Typical Girls” feito em 1979:

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