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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A música e a morte - por Andreas Kisser


Como estamos entrando em mais um fim de semana em que celebramos o dia da morte, ou feriado de finados, resolvi escrever sobre a influência que a dona morte tem na música, seja ela de tom religioso, comercial ou nas parcerias que grandes astros já mortos fazem com seus companheiros que continuam suas carreiras musicais nesta dimensão em que vivemos.
A morte é celebrada através da música por diversas maneiras e com objetivos variados. Os seus mistérios e o seu poder são exaltados em diferentes culturas pelos cantos fúnebres, que unem os vivos na lembrança dos entes queridos, homenageando os que deixaram o nosso mundo. Creio que todas as culturas e religiões veem na música a maneira mais sensível e poderosa de mexer com os sentimentos das pessoas, criando climas e sensações que levam a nossa imaginação a lugares que são impossíveis de se chegar e elevam a nossa alma.
A morte é um tema muito comum no Heavy Metal, tendo uma variável denominada Death Metal, um dos estilos mais conhecidos e influentes. Tudo começou com o Black Sabbath que trouxe o tema para as suas letras e seus seguidores e, através do tempo, foram ficando mais pesados e agressivos. A morte é sempre um dos principais temas abordados nas letras e nas capas dos discos. Uma das melhores capas do Black Sabbath retrata os últimos momentos de uma pessoa, rodeada por demônios e anjos do mal. Na contra capa, ao contrário, mostra esta mesma pessoa rodeada pela família, em um momento de paz antes da morte.
Uma das obras mais fantásticas que Mozart escreveu , “Réquiem”, que foi finalizada por outro compositor, mostra uma missa fúnebre que supostamente seria apresentada em seu próprio funeral. Ela é bela, intensa, pesada, agressiva e suave ao mesmo tempo, uma verdadeira obra prima à celebração da morte. Outros compositores também escreveram suas missas fúnebres, mas nenhuma tem o poder e a beleza da obra de Mozart.


No Haiti se pratica, entre outras formas de culto, o Vodu Haitiano – ou “serviço aos espíritos” -, que são festas em reverência ao mundo dos mortos e a influência que eles exercem no mundo dos vivos. Até os mortos-vivos, os famosos Zumbis, aparecem. É mais ou menos como se vê no Candomblé brasileiro, com muito batuque e cantorias, celebrando os espíritos do além e que guiam as nossas ações aqui na Terra. Estes cultos são sempre muito musicais, dançantes, ricos na vestimenta e nos adereços. São tradições trazidas da África, que vieram com os escravos que arriscavam suas vidas para manter suas tradições religiosas. Aqui se nota que a música é essencial nestes cultos religiosos. Mesmo sob a pressão de seus donos, os escravos mantinham suas tradições com as músicas e os cantos inclusos.

Fora dos cultos religiosos, nas músicas mais comerciais, se vê cada vez mais gravações feitas por grandes artistas que já morreram, mas deixaram registros para serem aproveitados de alguma maneira póstuma. Até em shows os defuntos fazem participações em duetos com os vivos. Graças a tecnologia, que não para de evoluir, estas parcerias são possíveis hoje em dia e emocionam os fãs, amigos e familiares.
Eu tive a chance de ver uma destas parcerias em um prêmio da música brasileiro, homenageando Jair Rodrigues. Nesta ocasião, Jair fez um dueto com a sua eterna amiga Elis Regina, uma das grandes parceiras de Jair. Foi realmente emocionante ver o Jair cantando com a Elis no telão, como se os dois estivessem juntos no palco como nos velhos tempos. Um privilégio estar presente num momento destes:



Outros exemplos como este de Jair e Elis são os discos do Queen “Made in Heaven”, que foram gravados e lançados depois da morte do gênio Freddie Mercury. Ele tinha pré-gravado algumas faixas, já muito doente e debilitado e, depois de sua morte, o Queen completou as gravações, incluindo temas que ainda não tiham sido terminados. Na última tornê da banda, com o Paul Rodgers nos vocais, o Queen trouxe Freddie de volta aos palcos. Foi um dos momentos mias emocionantes do show.
Os Beatles também lançaram uma música inédita no lançamento do “Anthology”. Paul Mccartney pediu a Yoko algo que John tivesse deixado nas demos que fazia em sua casa. Yoko entregou uma demo com a música “Free as a Bird”. Com a posse da voz de Lennon, os outros três  Beatles terminaram o arranjo e lançaram a música. Também foi um momento mágico e emocionante ouvir algo tão novo dos Beatles em um trabalho feito pelos quatro músicos, depois de tanto tempo.



Um bom feriado à todos, boas lembranças e muita paz.
Abraços, play ot loud!
Andreas Kisser

http://colunistas.yahoo.net/posts/6034.html

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