Com chamas por todos os lados do palco - e até nos integrantes -, banda alemã promoveu espetáculo de pirotecnia diante de seis mil fãs, na Via Funchal
O sexteto de metal industrial chegou ao palco por volta das 22h15, com 15 minutos de atraso. Ao som de "Rammlied", a banda permanece escondida atrás de um grande pano que lembra a bandeira da Alemanha, exceto pela ausência da faixa amarela. A cor, no entanto, aparece no jogo de luzes. Quando o pano cai, revela o vocalista Till Lindemann com um avental vermelho, os lábios pintados de preto e os braços sujos; no pescoço, uma "coleira" de penas vermelhas e dentro da boca uma pequena lanterna branca, imperceptível, que ilumina a cavidade bucal do cantor (e principal compositor do grupo) a cada palavra pronunciada.
Na linha de frente do palco, Lindemann é acompanhado pelos dois guitarristas, o fundador Richard Z. Kruspe e Paul H. Landers. Mais ao fundo, em uma parte mais alta, estão baixista, baterista e o performático tecladista (Oliver "Ollie" Riedel, Christoph "Doom" Schneider e Christian "Flake" Lorenz, respectivamente). Flake protagoniza dois dos grandes momentos do show. Na polêmica "Mein Teil", escrita com base no caso de canibalismo do alemão Armin Meiwes (que foi condenado à prisão perpétua depois de, em 2004, ter castrado - com suposto consentimento da vítima -, assassinado e comido a carne de um homem de 43 anos), Flake surge dentro de um caldeirão enfumaçado; Lindemann, vestido de açougueiro, com sangue falso nos braços e microfone em forma de facão, incendeia - literalmente - o caldeirão. Mais tarde, quase no final do show, em "Haifisch" (tubarão, em alemão), Flake sobe em uma espécie de bote e se deixa levar pelas mãos da plateia.
A lista de músicas passeou por toda a discografia do Rammstein - de Herzeleid, o disco de estreia, lançado em 1995, a Liebe Ist Für Alle Da, de 2009 (das 18 músicas do set list, sete foram desse CD). Lindemann, aos 47 anos, comanda o espetáculo e é recebido pelo público quase com devoção. O timbre extremamente grave e os vocais que ficam entre o alto e o sussurro fazem dele um grande cantor. Além de seu idioma caber perfeitamente nas canções pesadas da banda, o jeito de cantar se difere de outros vocalistas de metal, já que ele não desfere agudos, nem gritos guturais.
Till Lindemann vocalista do Rammstein, São Paulo, 30/11/2010 |
O "potente" frontman, aliado às guitarras distorcidas e aos sintetizadores do Rammstein, que também é classificado, por alguns, como tanz-metall (algo como dance metal), e às letras que passam longe do politicamente correto - tendo sexo, violência, e muitas vezes misturando os dois - levaram o grupo ao posto de banda de língua alemã mais bem-sucedida no mundo, em 2004, segundo as paradas da Billboard.
Mas, claro, nem só a música faz do show do Rammstein um evento imperdível. Praticamente todas as faixas trazem algum efeito visual, à exceção de "Fhrüling in Paris", que tem até - surpresa - violão. Em "Waidmanns Heil", Lindemann empunha uma grande espingarda, enquanto labaredas de fogo "correm" pelo palco e fogos de artifício vermelhos caem do topo da estrutura para o chão; pequenas chamas saem dos braços dos guitarristas em "Du Riechst So Gut" (o primeiro single da carreira da banda); em "Benzin", com a ajuda de uma bomba de combustível fictícia, Lindemann usa a mangueira como um grande lança-chamas, antes de tacar fogo em um homem no palco (obviamente, ele estava com uma roupa especial); no mega-hit "Du Hast", o vocalista aparece com uma arma com a qual "atira" fogos para os fundos da casa - os mesmos voltam para o palco e provocam uma chuva luminosa sobre os integrantes. Isso sem contar "Pussy", em que o baterista usa um dildo que dispara fogos (e a chuva de papeis picados, brancos, que finaliza a canção), e o fogo lançado por um dispositivo próximo à boca de Lindemann e dos dois guitarristas em "Feuer Frei!".
Paul Lander, guitarrista do Rammstein na Via Funchal em São Paulo |
Quando o calor na Via Funchal beirava o insuportável - o chão e as paredes já estavam molhados pelo suor do público -, os alemães aparecem para o bis final com a nada singela "Te Quiero Puta". Às 23h55, já com todos os integrantes na frente do palco, Lindemann agradece bradando "Viva Brasil!" e "Muito obrigado!".
O Rammstein volta à Via Funchal nesta terça, 1. Os ingressos ainda estão disponíveis e custam entre R$ 200 e R$ 300.
Christian Lorenz nos teclados. Rammstein no Via Funchal em SP |
Richard Kruspe, do Rammstein no palco do Via Funchal |
Christopher Schneider, baterista do Rammstein no Via Funchal em SP |
Oliver Riedel, baixo. Rammstein no Via Funchal em SP |
Rammstein (Via Funch
Depois de mais de dez anos de birra com o Brasil, por conta da vaia recebida em 1999 quando abriu o show do KISS, RAMMSTEIN volta ao país na turnê “Liebe ist für Alle da”. Com dois shows marcados, nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro, a exceção foi feita após o esgotamento de ingressos para a primeira apresentação. A quantidade de fãs mostrou-se tão grande que a fila praticamente abraçou o quarteirão da Via Funchal. A casa foi aberta às 20h, mas o show começou por volta das 22h20, quando ainda havia gente lá fora esperando para entrar.
A pedido dos músicos, o show não foi reproduzido nos telões. Dessa forma, quem estava no camarote e no mezanino teve dificuldade em assistir à banda que antecipou sua aparição no palco com duas cortinas: uma preta e outra emulando a bandeira da Alemanha. O palco foi decorado em dois níveis, sendo que no mais baixo estava o vocalista Till Lindemann ladeado pelos guitarristas e vocal de apoio Richard Kruspe e Paul Landers. Acima, o baixista Oliver Riedel e o tecladista Christian Lorenz (o Doktor Flake) circundaram o baterista Christoph Schneider (Doom). Vestidos em couro, Lindemann seguiu seu primeiro figurino aos moldes do clipe “Ich tu’ dir weh”: com uma lâmpada na boca, penas ao redor do pescoço e o corpo já manchado como se fosse de óleo e fuligem, o vocalista anunciou o show com uma explosão e a música “Rammlied”.
Por conta do concerto ter sido feito num lugar fechado, a dúvida quanto à pirotecnia, efeito característico dos shows da banda, permaneceu até a terceira música, “Waidmanns Heil”, que preencheu o salão com labaredas e fumaça. Quem estava próximo ao palco pôde sentir o calor das chamas e a leve asfixia provocada pelos efeitos. O fogo retornou ainda mais forte quando em “Feuer Frei”, Lindemann deixou o palco de joelhos, retornando junto de Landers e Kruspe para compor uma tríade. Os três músicos levantaram compridas chamas a partir de um dispositivo acoplado em frente à face.
Apesar de não ter havido tempo para conversa com o público entre as músicas, o vocalista ousou pedir à platéia para que cantassem “mais forte”, como disse rapidamente e com forte sotaque. Flake também não pôde deixar de fazer sua encenação, dançando euforicamente logo nas primeiras músicas e depois aparecendo de dentro do caldeirão de “Mein Teil”, já vestido com um macacão com acessórios brilhantes. A música, que trata do caso de canibalismo Armin Meiwes, foi encenada pelo vocalista com um avental ensangüentado de açougueiro e uma faca-microfone. Nesse momento também não faltou fogo, já que Lindemann o ateava abaixo da panela gigante onde Flake aparecia para fazer caretas e tocar teclado.
A encenação e a pirotecnia estiveram presentes também em “Benzin”, que trouxe ao palco um tanque de gasolina e uma mangueira cuspindo fogo. “Links 2 3 4” animou os fãs com batidas marciais e ritmo marchante antes de dar início a “Du hast”, hit que só não foi mais delirante que a música seguinte, a aguardada e polêmica “Pussy”. Enquanto em outros shows a banda já chegou a levar um canhão em forma de pênis, neste a surpresa foi a dança que o baterista Doom fez acima de seu instrumento. Agitando os espectadores, ele chegou a pôr três pênis postiços colados abaixo do ventre, sendo que somente nos dois últimos exemplares a “mágica” foi acontecer: girando de um lado para o outro, Doom espalhava as fagulhas expelidas pelo objeto.
Como bis, RAMMSTEIN tocou mais quatro músicas, sendo apenas a “Haifisch” do novo álbum que dá título à turnê, na qual Flake subiu num bote inflável e foi carregado sobre as mãos da platéia de um lado para o outro até retornar ao palco. Nesse meio-tempo, o tecladista inclusive hasteou uma bandeira do Brasil que conseguiu com os fãs. As demais canções foram “Sonne” e “Ich will”, que levantaram um grande coro junto a Lindemann.
Mas foi “Te quiero puta” que mais alegrou o público: após uma grande maioria gritar pela música, a banda reapareceu com Flake já segurando um trompete. Em espanhol, a composição não deixou nenhum fã com o alemão enrolado se inibir. O refrão cantado pela platéia tornou-se ainda mais alto que o som do microfone de Lindemann.
O show teve duração de duas horas, mas o pós na rua Funchal durou até depois da meia noite. Havia quem comentasse que no dia seguinte estaria lá novamente para prestigiar a banda alemã que há tanto tempo não voltava ao Brasil.
Setlist
"Rammlied"
"B********"
"Waidmanns Heil"
"Keine Lust"
"Weisses Fleisch"
"Feuer Frei"
"Wiener Blut"
"Frühling in Paris"
"Mein Teil"
"Du Riechst So Gut"
"Benzin"
"Links 2 3 4"
"Du Hast"
"Pussy"
"Sonne"
"Haifisch"
"Ich Will"
"Te Quiero Puta"
"B********"
"Waidmanns Heil"
"Keine Lust"
"Weisses Fleisch"
"Feuer Frei"
"Wiener Blut"
"Frühling in Paris"
"Mein Teil"
"Du Riechst So Gut"
"Benzin"
"Links 2 3 4"
"Du Hast"
"Pussy"
"Sonne"
"Haifisch"
"Ich Will"
"Te Quiero Puta"
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