Com a morte de Robert William Gary Moore na semana passada, aos 58 anos, calou-se um dos mais icônicos gritos de torcida do rock das últimas décadas. Fosse para saudar a chegada do poderoso guitarrista de Belfast para outro concerto arrebatador ou para implorar que se demorasse mais um pouco, ou voltasse para mais um bis avassalador, o fato é que a galera sempre esteve presente e se divertindo e querendo mais.
Querendo mais e mais de Gary Moore, suas baladas intoxicantes e sua artilharia pesada de riffs e poses. Bluesrocker de curioso carisma, gravou duas dezenas de discos, estabeleceu centenas de conexões e parcerias bacanas, chegou algumas vezes às paradas de sucesso e, à sua maneira, foi fazer blues lá no pedaço do metal. Porque, afinal de contas, tudo se resumia a isso: para além das questões não-musicais ou estratificações mercadológicas, existia seu blues. E isso parecia-lhe bem suficiente.
Nesse tributo de Mondo Massari ao guitarrista visceral, uma seleção de discos que contam com sua ilustre e notável participação.
Skid Row – 34 Hours (1971)
Em 1968, aos 16 anos, Gary Moore passa a integrar o Skid Row, banda dublinesa de Brendan “Brush” Shiels – naquele momento praticamente os únicos capazes de rivalizar com os poderosos conterrâneos do Taste, de Rory Gallagher. O lendário Martin Birch (Fleetwood Mac, Deep Purple, Black Sabbath e Iron Maiden dentre muitos outros) foi o engenheiro de som desse segundo registro em longa duração da banda, gravado em 34 horas. No espírito da época, cruzava sonoridades e referências. Folk levemente psicodélico para as platéias mais progressivas do período. O jovem guitarrista tem seus primeiros momentos de brilho. A cena já percebe que esse vai dar trabalho. (Graças à banda de Sebastian Bach, esse velho Skid Row passou a ser eventualmente chamado de Skid Row UK)
Em 1968, aos 16 anos, Gary Moore passa a integrar o Skid Row, banda dublinesa de Brendan “Brush” Shiels – naquele momento praticamente os únicos capazes de rivalizar com os poderosos conterrâneos do Taste, de Rory Gallagher. O lendário Martin Birch (Fleetwood Mac, Deep Purple, Black Sabbath e Iron Maiden dentre muitos outros) foi o engenheiro de som desse segundo registro em longa duração da banda, gravado em 34 horas. No espírito da época, cruzava sonoridades e referências. Folk levemente psicodélico para as platéias mais progressivas do período. O jovem guitarrista tem seus primeiros momentos de brilho. A cena já percebe que esse vai dar trabalho. (Graças à banda de Sebastian Bach, esse velho Skid Row passou a ser eventualmente chamado de Skid Row UK)
Gary Moore Band – Grinding Stone (1973)
Essa algo subestimada estreia solo de Moore até merece as, digamos, reavaliações que tem conseguido ao longo dos anos. Nada mais justo para um disco que, possivelmente, buscava algum tipo de inspiração informal no clássico absoluto Astral Weeks, do conterrâneo modelar Van Morrison – sem suas pretensões transcendentes; mais como modelo de experimentação. Especulações à parte, tem algo de especial na alma desse boogie’n’roll cheio de graça.
Essa algo subestimada estreia solo de Moore até merece as, digamos, reavaliações que tem conseguido ao longo dos anos. Nada mais justo para um disco que, possivelmente, buscava algum tipo de inspiração informal no clássico absoluto Astral Weeks, do conterrâneo modelar Van Morrison – sem suas pretensões transcendentes; mais como modelo de experimentação. Especulações à parte, tem algo de especial na alma desse boogie’n’roll cheio de graça.
Colosseum II – Electric Savage (1977)
Com a segunda versão da banda do baterista Jon Hiseman, GM gravou 3 discos de jazzrock da pesada.Electric Savage e War Dance, discos 2 e 3, bem similares, são de 1977. Faíscas, muita energia liberada na destilação sem dó das técnicas (e delírios) invejáveis dos músicos envolvidos. É possível que seja mesmo uma daquelas fusões meio excessivas – mas destaca-se, em vários momentos, a assinatura distinta do guitarrista Gary Moore que, por conta da sabedoria blueseira, parece colocar ordem na casa, ou pelo menos garantir alguns instantes de serenidade em meio à con(fusão).
Com a segunda versão da banda do baterista Jon Hiseman, GM gravou 3 discos de jazzrock da pesada.Electric Savage e War Dance, discos 2 e 3, bem similares, são de 1977. Faíscas, muita energia liberada na destilação sem dó das técnicas (e delírios) invejáveis dos músicos envolvidos. É possível que seja mesmo uma daquelas fusões meio excessivas – mas destaca-se, em vários momentos, a assinatura distinta do guitarrista Gary Moore que, por conta da sabedoria blueseira, parece colocar ordem na casa, ou pelo menos garantir alguns instantes de serenidade em meio à con(fusão).
Gary Moore – Back On The Streets (1979)
Considerado o primeiro disco solo de fato (por estar assinado só como Gary Moore), conta com participações ilustres dos chapas Phil Lynott e Brian Downey, da queridíssima banda Thin Lizzy. A balada hardrock “Parisienne Walkways” emplacou um top 10 na parada britânica de singles.
Considerado o primeiro disco solo de fato (por estar assinado só como Gary Moore), conta com participações ilustres dos chapas Phil Lynott e Brian Downey, da queridíssima banda Thin Lizzy. A balada hardrock “Parisienne Walkways” emplacou um top 10 na parada britânica de singles.
Thin Lizzy – Black Rose: A Rock Legend (1979)
Finalmente Gary Moore fica tempo o suficiente no superlativo combo de hardrock irlandês Thin Lizzy para gravar um disco. Emplacando de cara um segundo lugar na parada britânica de álbuns, esse nôno disco de estúdio da banda de Phil Lynott é uma espécie de disco-irmão de Back On The Streets - não seria estranho de maneira alguma vê-los juntos num pacote duplo. Você grava no meu que eu participo do seu… Pode não ser o mais bombástico da discografia do Thin Lizzy, mas figura dentre os prediletos de muitos fãs da banda. GM e Scott Gorham se acertam bonito nas tramas guitarrísticas; dá a impressão de que GM sempre tocou na banda. Axl Rose tatuou a capa desse disco no braço.
Finalmente Gary Moore fica tempo o suficiente no superlativo combo de hardrock irlandês Thin Lizzy para gravar um disco. Emplacando de cara um segundo lugar na parada britânica de álbuns, esse nôno disco de estúdio da banda de Phil Lynott é uma espécie de disco-irmão de Back On The Streets - não seria estranho de maneira alguma vê-los juntos num pacote duplo. Você grava no meu que eu participo do seu… Pode não ser o mais bombástico da discografia do Thin Lizzy, mas figura dentre os prediletos de muitos fãs da banda. GM e Scott Gorham se acertam bonito nas tramas guitarrísticas; dá a impressão de que GM sempre tocou na banda. Axl Rose tatuou a capa desse disco no braço.
Gary Moore – Victims Of The Future (1984)
No começo dos anos 80, para surpresa mezzo geral GM se aproxima, via seu hardrock de matriz blueseira, do universo do metal. E se dá bem. Abre caminho na raça com seu vozeirão poderoso (nunca foi exatamente um vocalista versátil ou de técnica mirabolante, mas também nunca teve medo de se escancarar, arregaçar a garganta para dar o recado) e passa a atacar a guitarra com disposição invejável. Rifferama intensa, bluesmetal furioso. Sobra até para as baladas (aliás, GM sempre foi chegado numa). A famosa “Empty Rooms”, revisitada anos depois, é desse disco. “Murder In The Skies” e a faixa-título promovem discurso político. A cabulosa cover de “Shapes Of Things”, dos seminais Yardbirds, é destaque dessa bolacha – virou ítem obrigatório nas apresentações ao vivo.
No começo dos anos 80, para surpresa mezzo geral GM se aproxima, via seu hardrock de matriz blueseira, do universo do metal. E se dá bem. Abre caminho na raça com seu vozeirão poderoso (nunca foi exatamente um vocalista versátil ou de técnica mirabolante, mas também nunca teve medo de se escancarar, arregaçar a garganta para dar o recado) e passa a atacar a guitarra com disposição invejável. Rifferama intensa, bluesmetal furioso. Sobra até para as baladas (aliás, GM sempre foi chegado numa). A famosa “Empty Rooms”, revisitada anos depois, é desse disco. “Murder In The Skies” e a faixa-título promovem discurso político. A cabulosa cover de “Shapes Of Things”, dos seminais Yardbirds, é destaque dessa bolacha – virou ítem obrigatório nas apresentações ao vivo.
A guitarra do mestre...
Gary Moore – We Want Moore (1984)
Apesar de ter gravado muito e trabalhado em estúdio com centenas de músicos, GM era um ser da estrada. On the road sem parar, sempre que possível. Ao vivo era um daqueles músicos que pareciam se doar por completo. Cada apresentação como se sua vida dependesse daquilo (no caso do blues parece ser premissa), ou como se fosse a última. Herói da guitarra por natureza, comprendia a iconografia do ataque às seis cordas e se atirava de cabeça em solos carregados de emoção.
Apesar de ter gravado muito e trabalhado em estúdio com centenas de músicos, GM era um ser da estrada. On the road sem parar, sempre que possível. Ao vivo era um daqueles músicos que pareciam se doar por completo. Cada apresentação como se sua vida dependesse daquilo (no caso do blues parece ser premissa), ou como se fosse a última. Herói da guitarra por natureza, comprendia a iconografia do ataque às seis cordas e se atirava de cabeça em solos carregados de emoção.
Lançado no segundo semestre de 1984, We Want Moore captura Gary e comparsas (Ian Paice do Purple na bateria) em rolê pelo planeta (EUA, Japão e Reino Unido) nos primeiros mêses daquele ano. Na foto da contra-capa do disco, GM é saudado por mais de 100 mil pessoas em Donington Park – dividiu o palco do lendário festival Monsters Of Rock desse ano com Van Halen, Ozzy Osbourne e ACDC dentre outros.
Live At The Marquee Club foi lançado em 1992, mas traz registro de apresentação de 1980 no mítico e diminuto clube londrino. Mas de fato pouco importa se são cento e tantos mil no autódromo ou trezentos no clube do Soho. A rotina de tristes baladas bluesy e pedradas com nomes sugestivos como “Nuclear Attack” e “Dallas Warhead” é a mesma; banda extenuada ao final, difícil sair indiferente.
Em 2003, o lançamento de Live At Monsters Of Rock parece fechar um ciclo. À frente de um power trio, GM se apresenta para as novas gerações na Hallam Arena de Sheffield – em data da turnê que leva o nome do festival. Yardbirds e Free estão no cardápio de covers; “Parisienne Walkways” em versão de quase 10 minutos encerra os trabalhos.
Gary Moore – Still Got The Blues (1990)
A idéia era ficar no sossêgo, sem pressões de mercado ou algo parecido, e fazer um disco de blues. Nada muito pretensioso. Virou um dos clássicos de sua carreira, possivelmente o de maior sucesso comercial. Albert King, Albert Collins, Nicky Hopkins e George Harrison são alguns dos discretos convidados. A famosa “Still Got The Blues (For You)” é desse disco. A dor de cabeça só apareceria em 2008, quando corte alemã deu parecer favorável à banda local Jud’s Gallery, que apontava plágio no solo da famosa canção. Mesmo negando absolutamente o conhecimento da gravação de 1974, GM teve que desenbolsar um dinheiro para os ilustres desconhecidos alemães. Daí não se falou mais nisso.
A idéia era ficar no sossêgo, sem pressões de mercado ou algo parecido, e fazer um disco de blues. Nada muito pretensioso. Virou um dos clássicos de sua carreira, possivelmente o de maior sucesso comercial. Albert King, Albert Collins, Nicky Hopkins e George Harrison são alguns dos discretos convidados. A famosa “Still Got The Blues (For You)” é desse disco. A dor de cabeça só apareceria em 2008, quando corte alemã deu parecer favorável à banda local Jud’s Gallery, que apontava plágio no solo da famosa canção. Mesmo negando absolutamente o conhecimento da gravação de 1974, GM teve que desenbolsar um dinheiro para os ilustres desconhecidos alemães. Daí não se falou mais nisso.
BBM – Around The Next Dream (1994)
Jack Bruce e Ginger Baker até que tentaram, mas não conseguiram arrastar Eric Clapton para um projeto de inéditas do Cream. Entra Gary Moore em cena e, a despeito das inevitáveis e algo cruéis comparações com o creme do bluesrock britânico sessentista, tudo se encaixa de modo bem decente. Uma das cozinhas mais espetaculares do rock de todos os tempos na retaguarda de um guitarrista com léxico bem particular – rifferama ácida e deliciosamente eloquente.
Jack Bruce e Ginger Baker até que tentaram, mas não conseguiram arrastar Eric Clapton para um projeto de inéditas do Cream. Entra Gary Moore em cena e, a despeito das inevitáveis e algo cruéis comparações com o creme do bluesrock britânico sessentista, tudo se encaixa de modo bem decente. Uma das cozinhas mais espetaculares do rock de todos os tempos na retaguarda de um guitarrista com léxico bem particular – rifferama ácida e deliciosamente eloquente.
Gary Moore – Blues For Greeny (1995)
Peter Green e Jimi Hendrix eram os caras que faziam a cabeça do guitarrista Gary Moore. Nesse tributo ao mestre camarada Peter Green, GM visita o repertório do ex-Fleetwood Mac (na sua fase inicial, inglesa e essencialmente blueseira) empunhando a lendária Gibson Les Paul Standard 1959 que Green lhe emprestara ao deixar o Fleetwood Mac. GM chegou a comprá-la depois, por 100 libras; hoje é considerada por especialistas uma das mais valiosas do mundo.
Peter Green e Jimi Hendrix eram os caras que faziam a cabeça do guitarrista Gary Moore. Nesse tributo ao mestre camarada Peter Green, GM visita o repertório do ex-Fleetwood Mac (na sua fase inicial, inglesa e essencialmente blueseira) empunhando a lendária Gibson Les Paul Standard 1959 que Green lhe emprestara ao deixar o Fleetwood Mac. GM chegou a comprá-la depois, por 100 libras; hoje é considerada por especialistas uma das mais valiosas do mundo.
Gary Moore – Bad For You Baby (2008)
O último de estúdio de Gary Moore. Mais de Moore se entregando ao seu blues; e uma bela cover de Al Kooper, “I Love You More Than You’ll Never Know”.
O último de estúdio de Gary Moore. Mais de Moore se entregando ao seu blues; e uma bela cover de Al Kooper, “I Love You More Than You’ll Never Know”.
We Want Moore…
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