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Para mim, a música clássica e o heavy metal são do mesmo planeta. Nos dois lados existem compositores rebeldes, virtuosos e revolucionários, as épocas são diferentes, mas a atitude me parece a mesma. Hoje, a música clássica se limita às poucas boas salas de concertos e programas raros na televisão e no rádio. Já não se ouve mais compositores arrojados e influentes, a maioria das gravações atuais ainda são dos clássicos de Beethoven, Mozart, Vivaldi e Villa-Lobos, difícil falar de algum compositor contemporâneo que tenha a mesma influência e impacto, mas os tempos são outros e essa rebeldia e virtuosismo, na minha opinião, está no heavy metal.
Não é coincidência que as grandes bandas de rock se uniram às grandes orquestras e juntos fizeram coisas espetaculares. A primeira que me lembro é o Deep Purple, que fez um concerto no Royal Albert Hall, em Londres, no ano de 1969. O tecladista John Lord foi o grande responsável por esta junção, escreveu a arranjou os temas que eles apresentaram. O guitarrista Richie Blackmore também é um apreciador da música clássica e o resultado foi magnífico e surpreendente, afinal não se tinha visto nada parecido até então.
Na mesma época, 1969, o The Who fez a sua junção de rock e orquestra e acabou criando o termo “ópera-rock” com o disco Tommy. Um grande sucesso, muito mais aclamado do que a mistura do Deep Purple, pois as letras contavam uma história, com enredo e com personagens alucinantes. A junção da banda com os instrumentos clássicos deixou a história ainda mais interessante. Com o Deep Purple e o The Who, estava aberto o caminho para outros grupos fazerem o mesmo, ou seja, maximizar o peso do rock and roll através do som gigantesco de um orquestra.
Outras bandas da década de 70, mas que fizeram seus experimentos bem mais tarde, foram o Kiss e o Scorpions. O Kiss fez o disco ao vivo Alive IV na Austrália com a Orquestra de Melbourne, um show espetacular onde a orquestra entre no mundo do Kiss, com um palco cheio de efeitos pirotécnicos, grandes telões e todos os músicos da orquestra com os rostos pintados da mesma maneira que o Kiss. O resultado é apoteótico.
Por sua vez, o Scorpions se apresentou com uma das maiores e mais respeitadas orquestras filarmônicas do mundo, a de Berlin. Nesta mesma cidade, a banda alemã se apresentou em uma grande arena, também trazendo a orquestra para o ambiente do rock. Grande shows de luzes, figurino escolhido nos mínimos detalhes, cortinas caindo e muito som. O bom gosto da Scorpions esta em todos os arranjos, eles tem muita melodia e sentimento, a união foi perfeita.
Um músico que é do rock pesado, mas vive no mundo erudito, é o guitarrista sueco Yngwie Malmsteen, um monstro no instrumento. À frente da orquestra, no Japão, ele é o solista nato, é como se nós tivéssemos o privilégio de ver Nicolo Pagannini destruindo o violino ali na sua frente. Mas, como ninguém vivo viu o mestre de perto, Malmsteen nos traz esta sensação nos tempo de hoje. Sua técnica é impecável e sua presença é mágica. Ele apresente um repertório quase que exclusivamente escrito pore le em arranjos de arrepiar. Yngwie foi o roqueiro que conseguiu colocar a musica erudita no formato do rock, agora ele faz isso num recinto erudito, onde os grandes mestres da música clássica se apresentam.
No metal mais pesado e extremo temos o Metallica com a Orquestra Sinfônica de São Franciso. Apesar de ser um mega fã de Metallica, achei o resultado fraco e um pouco confuso, o Metallica poderia ser mais “maleável” e dialogar mais com a orquestra. De qualquer forma, é um show que vale a pena conferir.
Aqui no Brasil temos algumas experiências similares. A mais recente é a do Dr. Sin que se apresentou na Sala São Paulo, talvez a melhor sala de concertos da América Latina, tocando clássicos do rock and roll com a Banda Sinfônica de São Paulo. O visual desta sala é maravilhoso, ainda mais com uma banda e orquestra juntos. O Dr. Sin possue músicos de altissimo nível e as versões ficaram muito interessantes. Seria legal se na próxima eles fizessem versões de suas próprias músicas, trazendo ainda mais originalidade para estas junções.
E agora o Sepultura está fazendo a sua mistura. No dia 16 de Abril, à meia-noite, estaremos tocando na Virada Cultural de São Paulo no palco da estação da Luz, tradicionalmente o palco de apresentação das orquestras. Será um concerto em prol do Pau-Brasil e Orquestra Experimental de Repertório de SP convidou o Sepultura. O repertório será de temas do Sepultura, com orquestração do maestro Alexey Kurkdjian e regência do maestro Jamil Maluf. Será a nossa primeira experiência com uma orquestra completa e os arranjos estão bem audaciosos. Será a também a premiere ao vivo do tema que fizemos da Nona de Beethoven, gravada no nosso último disco A-Lex.
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