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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Andreas Kisser: Jimi Hendrix, violência e harmonia


Por Andreas Kisser 

Violência e harmonia



As imagens e os sons que estão sendo mostrados pela mídia – nacional e mundial- dos graves acontecimentos no Rio de Janeiro nestes últimos dias, parecem imagens vindas da Palestina ou da Colômbia nas batalhas contra as Farc. Aliás, aqui no Brasil é muito pior, pois os traficantes estão mais armados e melhores equipados do que os palestinos, que atacam os tanques israelenses com pedras. Os tanques estão nas ruas cariocas e as imagens viajam o mundo, confirmando o caos brasileiro para o planeta.
A música e a violência sempre estiveram juntas. Letra e melodia, um tema em diferentes harmonias, muitas vezes, é a maneira mais potente e abrangente de se transmitir mensagens de injustiça, abusos e violência, que ultrapassam fronteiras e barreiras. Guerras e revoluções foram, ao mesmo tempo, glorificadas e condenadas através da música, e desta maneira, eternizadas na história.
Uma das manifestações mais espetaculares contra a violência da guerra sem sentido, se é que alguma guerra o tenha, foi o hino americano tocado pelo guitarrista Jimi Hendrix, em sua Fender Stratocaster, no famoso festival de Woodstock em 1969, em plena guerra do Vietnã (veja aqui). A melodia tão conhecida mundialmente foi intercalada por barulhos e distorções que representavam as bombas que caíam. Jimi  mostrou uma imagem de nação decadente e perdida, um manifesto histórico que, apesar do tempo, ainda mantém uma energia fantástica, muito viva e atual.
O heavy metal também tem nas guerras inspiração para escrever os seus temas. O Slayer tem muitas letras inspiradas nos absurdos da guerra, entre elas a “Angel of Death”, que descreve o “anjo da morte”, Joseph Mengele, em suas experiências insanas no campo de concentração em Auschwitz. O Venom tem uma música épica, que ocupa um lado inteiro de um vinil, acho que tem uns 20 minutos de duração, “At War with Satan”, ou “Na Guerra com Satã”, uma alucinógina batalha do mal contra o bem.
O Sepultura também se inspira na história e suas batalhas para escrever as letras, fazendo um paralelo ao dias em que vivemos: “Beneath the Remains”, “Refuse-Resist” e “Territory” são alguns exemplos disto. Outra letra sobre um fato violento é a de “Manifest”, que foi inspirada pelo massacre do Carandiru, antigo presídio de São Paulo, no ano de 1992 (Assista ao vídeo de “Refuse/Resist”).
“Sunday Bloody Sunday”, talvez a música mais famosa do U2, foi inspirada num massacre que ocorreu na Irlanda, no final da década de 70, em que várias pessoas morreram, entre elas várias crianças, consequência da intolerância religiosa e ódio na região. Foi um incidente que invadiu as manchetes dos jornais, telivisão e chocou o mundo. The Edge pegou a caneta e colocou toda a sua revolta no papel, escrevendo um hino em favor da paz dizendo: “How long must we sing this song?” (“Quanto tempo mais teremos que cantar esta música?”). Da maneira que tudo anda, muito tempo ainda.
A música atravessa fronteiras e transmite a mensagem de muitas pessoas que sofrem longe das lentes das câmeras dos repórteres e da Justiça, nestas guerras absurdas e revoluções hipócritas, nos crimes das ruas, da pobreza e da corrupção, o que gera o medo e o desespero. A música denuncia, ela está sempre relembrando o passado e mexendo nas feridas, muitas ainda abertas.
O que está acontecendo no Rio já foi cantado e denunciado por todos estilos musicais, principalmente pelo Rap e pelo Funk “proibidão”. Também pelos filmes, pelos livros e pelos corajosos personagens que saem da própria comunidade, num grito de justiça e desespero, que somente a arte pode proporcionar.
Já era tempo de se fazer algo mais real no Rio, infelizmente não há outra maneira de lidar com a violência do tráfico, pessoas que não dão valor à vida e são violentos por simples prazer. Pessoas que não absorvem a educação e tem valores totalmente contrários aos de uma sociedade que quer viver em paz.
Como diria James Hetfield, do Metallica: Fight Fire With Fire!
Abraço, PAZ e play it loud!
Andreas Kisser

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