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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Amy Winehouse está morta e só ela não sabe - por REGIS TADEU

http://colunistas.yahoo.net/posts/7894.html






A sensação não era boa. Há três anos sem mostrar nada de musical, permanecendo na mídia e na cabeça das pessoas apenas por uma infindável sucessão de escândalos, micos, bebedeiras, quase overdoses, caras e bocas perebentas e desdentadas, Amy Winehouse não parecia ser a melhor coisa a se ver em festival que tinha em seu line up gente nova e talentosa como, por exemplo, Mayer Hawthorne e Janelle Monáe. Não, a impressão é que todos nós iríamos presenciar um mico histórico. E pode apostar: 90% das pessoas presentes estavam esperando por isto. Os motivos que fazem alguém desembolsar uma tremenda grana para presenciar vexames ainda é um mistério para um velho ranzinza como eu…
Depois de fazer parte da matéria que você verá na próxima edição do “Na Mira do Regis” aqui no Yahoo!, cheguei a tempo de ver o ótimo e sacolejante show do Instituto. Além de uma banda muito bem azeitada na tarefa de fazer soul e funk com inequívoco sotaque brasileiro, as participações do lendário Carlos Daffé e das talentosíssimas Céu e Thalma de Freitas e dos competentes Kamau e Emicida deram um toque a mais de alegria e musicalidade a um show muito mais legal do que qualquer pessoa poderia imaginar.
Na sequência, veio o melhor apresentação da noite. Mayer Hawthorne e sua excelente banda brindaram a platéia com um soul/pop retrô de qualidade, com canções muito bem arranjadas, reforçadas pela simpatia com que o cantor as interpretou, muitas vezes empregando um falsete típico de quem ouviu muitos discos da Motown na adolescência. Isto causa até uma estranheza para quem o vê no palco, com um visual “nerd prestes a entrar em uma reunião de negócios” – veja abaixo:
A seguir veio a grande decepção da noite para mim. Com uma apresentação baseada em seus dois bons discos, Metropolis – Suite I e ArchAndroid – Suites II and III, Janelle Monáe mostrou apenas que tem uma garganta privilegiada e a intenção de se tornar uma espécie de “Kanye West do soul” em termos de pretensão. Seu show foi um desfile de canções “conceituais”, com tamanho excesso de sons pré-gravados que deu a impressão de estar diante de um imenso playback – principalmente nas três primeiras músicas, em que saquei que até mesmo ela estava cantando em cima de sua própria voz que saía de um MD – veja isto em “Faster” 




 e em “Tighttrope” . 




Isto sem contar com as bailarinas que vira e mexe apareciam com seus figurinos extraídos de uma peça escolar de final de ano, realizando coreografias ridículas. Monáe chegou mesmo a pintar um quadro – horroroso, por sinal – enquanto cantava uma das canções. O final pseudocatártico foi apenas a cereja no bolo embusteiro que ela apresentou…
Então veio Amy Winehouse. Sinceramente, fiquei imensamente surpreso com o show: foi MUITO PIOR do que eu imaginava. Sua postura bagaceira em cima do palco até que seria bem-vinda se comparada àquilo que vi: uma zumbi em pleno estado de deterioração física, emocional e musical. Nada lembrava a talentosa cantora que gravou até agora apenas dois discos – o bom Frank e o sensacional Back to Black. Poucas vezes vi alguém desafinar tanto, balbuciando a maior parte das letras de todas as canções, errando otiming de sua interpretação e exalando pelos olhos defuntos a imensa vontade de cair fora do palco o mais rápido possível (veja abaixo) 


a inacreditável sucessão de erros na já batida “Rehab” e a enganação que foi “Back to Black” (veja abaixo).
A plateia então deu um show à parte em termos de ignorância musical. Algumas pessoas aplaudiam ao final de cada música com a benevolência dos surdos, ao mesmo tempo em que urravam quando Amy bebia qualquer coisa no copo que estava no chão. Outras passaram o tempo todo conversando, como se estivessem em uma quermesse. Aliás, fiquei espantado de ver uma área VIP repleta de gente com as mesmas características: mauricinhos e playboys vestidos com camisetas de equipes de pólo e rugby, e mulheres bronzeadas artificialmente, com a pele tão alaranjada que dava a impressão de usarem Tang de tangerina como hidratante…
A banda de apoio foi um desastre à parte. Com uma pegada perfeita para se apresentarem na 14ª Convenção dos Motoristas de Táxi de Niterói, os músicos exibiam de maneira explícita uma falta de vontade que me deixou até com pena dos manés vestidos com camisas floridas, como se fossem uma espécie de cover dos Beach Boys na Ilha da Fantasia. No momento de cada um fazer o seu solo, o guitarrista tocou como se tivesse duas mãos esquerdas e dez polegares, o baterista não sabia o que fazer e o baixista dedilhou algo parecido com um exercício de aquecimento.
Em menos de uma hora de apresentação, o saldo final foi a grande tristeza em ver, ao vivo, uma outrora promissora cantora arrastar correntes na frente de um microfone, perante uma plateia não menos anestesiada em sua ignorância musical. É sério: Amy Winehouse morreu. E alguém precisa avisá-la disto, em vez de ficar bajulando-a pela frente e gargalhando por trás de suas costas esqueléticas.
Veja as fotos do Summer Soul Festival no Flickr oficial do Yahoo!: (por Bruno Guerreiro)

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