E foi sobre esse registro que conversamos com Steve Morse. Confira o papo!
GP - 'Angelfire' ressalta o seu lado "acústico" como compositor. A guitarra, nesse caso, aparece apenas para preencher detalhes nas canções. Você estava com saudade de compor e gravar temas acústicos quando pensou em fazer esse disco?
Steve Morse - Sim. De tempos em tempos, gravo músicas acústicas nos discos da Steve Morse Band ou do [Dixie] Dregs, e também tento algo no Purple. Acho que uma guitarra ligada em um amp, tocando apenas 'power chords', acaba virando rapidamente um único som. E uma das maneiras de fazer a música ser interessante é produzir diferentes sons e camadas. Contudo, antes de qualquer coisa, a razão para os violões e para eu ter feito esse disco foi a vocalista [Sarah Spencer]. Adorei ouvir a sua voz. No mais, como você disse, usei a guitarra apenas para preencher algumas coisas. A ideia foi priorizar o violão. É mais fácil de se ouvir os belos sons naturais do violão.
GP - Você escreveu as músicas antes de colocarem as letras?
Steve Morse - Sim! Algumas delas. 'Far Gone Now' era um tema que eu já havia composto e que depois fiz algumas mudanças e acrescentamos os vocais. 'Feelings are Overrated' era uma música que a Sarah tinha em uma demo e eu acabei fazendo umas mudanças. Gostei da ideia, mas tive de reescrever algumas partes e acrescentar outras. Esses são exemplos em que nós já tínhamos alguma coisa antes de nos juntarmos. Muitas das canções foram escritas comigo imaginando no que gostaria de ouvi-la cantando. Outro exemplo, 'Omnis Morse Aequat', aquela que soa como um coral, traz muitas trilhas com a voz de Sarah. É exatamente como eu queria ouvi-la cantando. Fizemos a letra em latim. Essa canção dá a oportunidade de se curtir a beleza das melodias e harmonias antes de qualquer coisa. E, se você tiver curiosidade, poderá ir atrás dos significados da letra em latim.
GP - O que você usou para gravar?
Steve Morse - Tudo que pude, inclusive violão de 12 cordas – gravar com violão de 12 cordas é bem frustrante por conta da afinação. Aliás, ao invés de usar o meu violão acústico de 12 cordas, acabei usando um violão elétrico de 12 cordas da Steinberger. A Steinberger fez esse violão sem headstock e todo em fibra de carbono. É o único de 12 cordas com o qual consigo trabalhar e que não me deixa louco. Também usei um violão de cordas de náilon e um Variax, além, claro, da minha guitarra Music Man Y2D para algumas poucas partes e alguns solos. Na maior parte, gravei com o violão de náilon.
GP - Algumas músicas chamam atenção, como o belo som da introdução de 'Terrible Thing to Lose'...
Steve Morse - Em 'Terrible Thing to Lose', usei minha guitarra para fazer harmônicos misturando-os com notas naturais. A ideia foi soar como um instrumento que não existe. A letra, ao invés de falar sobre um garoto e uma garota apaixonados, trata de alguém que está perdendo a cabeça, ficando louco. Não é uma canção comercial. Bem no começo [dos trabalhos], disse à Sarah: "Esse será o primeiro disco para o qual não será preciso dar desculpas por nada" [risos]. Sabe, às vezes, quando alguém grava seu primeiro disco por uma gravadora, dez anos depois justifica: "Bem, eu era jovem e eles [da gravadora] me diziam o que fazer".
GP - Outra boa amostra de 'Angelfire' é 'Here Today'...
Steve Morse - Essa era um pedaço de música que eu tinha e que estava sem vocais. Quando conheci a Sarah, percebi que ela era perfeita para essa canção. Achei que ficou bem melódica e muito delicada de se tocar. Adoro a melodia do vocal da Sarah, é sincopada às partes de guitarra.
GP - Como 'Angelfire' está sendo recebido pela crítica e pelos fãs?
Steve Morse - Não sei. Não me preocupo com essas coisas. Fazer álbuns não resume a minha vida, nem fazer shows. Então, não me estresso com isso depois que está pronto. Enquanto o disco está sendo feito, dou toda a atenção que puder. Mas, uma vez concluído, não me estresso.
GP - Quais são os planos do Deep Purple? Vocês vão gravar um novo álbum em 2011?
Steve Morse - Sim, eles estão agendando as coisas. Todos nós temos ideias para trabalhá-las juntos e gravá-las, em março. Esse é o plano no momento. Mas, com o Deep Purple, os planos mudam bastante.
GP - Qual será a ideia para o próximo álbum: manter a sonoridade dos últimos lançamentos ou tentar algo diferente?
Steve Morse - Eu espero que soe um tanto diferente do que os dois últimos. A atmosfera [desses discos] é boa, mas o som não é o meu favorito. Não quero que a mixagem seja como a de um disco de Neil Diamond. Não quero que os vocais fiquem soando muito, muito alto e a banda encoberta. Quero que soe como uma banda pesada. Vamos ver!
GP - De fato, esses discos soam 'clean'...
GP - Sempre penso em como 'Wrong Man', do disco 'Rapture of the Deep' (2005), poderia soar melhor se tivesse mais peso.
Steve Morse - Quando fizemos essa, tinha um riff [marcante]. E foi engraçado ver quando o disco saiu e [o riff] estava soando "miúdo" [risos]. É triste. [essa música] Era bem mais pesada nos ensaios. Lembro de dizer: "Se nós formos trabalhar essa música, vocês têm de lembrar que ela tem que ser pesada" – disse isso também ao produtor [Michael Bradford]. E eles: "Ah, não se preocupe" [risos].
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Foto: Divulgação
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