Por essa é bem possível que nem os maiores entusiastas da legendária banda inglesa esperavam: com mais de 40 anos de estrada, o Hawkwind emplaca, em pleno 2010, bolacha de responsa, digna de figurar entre as boas da vasta discografia da trupe do incansável Dave Brock. Os discos clássicos são aqueles dos 70 (o “motorhead” Lemmy Kilminster foi integrante em fase áurea) e, efetivamente, sempre foi uma banda para se consumir ao vivo (curiosamente, salvo algumas exceções, a pletora de registros ao vivo não dá conta de capturar a força do ataque “live” do Hawkwind). Mas nesse Blood Of The Earth, a veterana banda de rock espacial se apresenta para o serviço cheia de gás (hilariante-revigorante), emoldurando suas crônicas esotérico-psicodélicas em rifferama envolvente e poderosa. Uma hora de trip pelo espaço dos “bons sons” a bordo de uma das naves mais loucas do rock inglês.
Uma das mais queridas bandas novaiorquinas de todos os tempos capturada no auge da forma, para o rádio, a TV e, claro, delírio de testumunhas cheias de sorte! Produto híbrido, CD + DVD, registra a banda de Debbie Harry em apresentação emocionante no teatrão Apollo, de Glasgow, no reveillon de 1979. No CD, a transmissão do concerto na íntegra – conforme consumida pelos ouvintes da Radio 1 da BBC à época. No DVD, além de imagens dessa apresentação no Apollo (muito pirateada aliás), performances da banda para a TV britânica, com destaque às aparições históricas no programa Top Of The Pops (“Denis”, “Picture This”, Sunday Girl” e “Dreaming”).
Segundo Alex Paterson, da distinta grife eletrônica inglesa The Orb, esse encontro, ou colisão com David Gilmour do Pink Floyd, era apenas uma questão de tempo, já que circulam, desde sempre, em órbitas parecidas. Tudo começou com uma versão beneficente de “Chicago”, de Graham Nash, trabalhada, produzida pelo colaborador de longa data do The Orb, o super produtor (ex-Killing Joke) Youth. Foi tão divertido que quiseram mais – Gilmour se soltou em mais uma jam exclusiva e o The Orb impôs sua precisa, preciosa marca de manipulação, alquimia sônica. São essencialmente 2 longas faixas/lados – “Metallic Side” e “Spheres Side” – subdivididas em 5 temas cada. Ambient psicodélico classudo, embalado por deliciosas e espertas tramas guitarrísticas. Lançamento em diversos formatos (CDs, vinil e download com extras).
Capítulo novo na saga de Kazu Makino e dos irmãos Pace, Penny Sparkle não chega exatamente para abalar a moral da cultuada banda indie de Nova Iorque – mas a se julgar pela recepção algo inflamada de parte da crítica, deve forçar, para o bem ou para o mal, uma reavaliação do status do trio (ser sempre o tal do segredo bem guardado deve basicamente encher o saco!). Esse oitavo álbum do Blonde Redhead talvez soe mesmo menos… angular, intenso, torto do que nos primórdios, mas como evolução dos predecessoresMisery Is A Butterfly e 23, faz todo sentido. Disco de detalhes, de sutis efeitos eletrônicos, em que se destaca a voz suave de Makino. Alguns radicais podem até chiar, mas trata-se de um disco bem bonito. O disco pop do Blonde Redhead, no melhor sentido do termo.
Steeple é o debute em longa duração (depois de Tidings, coletânea dos primeiros e já colecionáveis singles) do quarteto inglês Wolf People – aliás, primeiros ingleses no catálogo da etiqueta americana. E é basicamente um petardo de hardrock tipo 70’s, cheio de bossa e graça visceral. Na base do clichê setentista, gravaram a bolacha num celeiro secular perdido nos vales galeses – reforçando a vibe quase prog, o nome da banda vem de livro infantil, Little Jacko & The Wolf People. Mas não se deixe enganar: a banda do vocalista e guitarrista Jack Sharp tem pegada e sabe como articular sua conversa blues/psychrock na sintaxe dos nossos dias. Cruzamento estiloso de Cream e Traffic, por exemplo, com o mais bombástico Wolfmother – cuidado, (mais) lobos à solta.
Holy Sons é na verdade Emil Amos, multiinstrumentista baseado em Portland, também integrante do combo de pós-rock Grails e da heavy-mística família Om. Como Holy Sons trabalha sem parar desde a metade da década de 90, na correria do ataque caseiro lo-fi, cantando e tocando todos os instrumentos. Nesse que é seu nôno álbum como Holy Sons, Emil harmoniza notavelmente suas pirações sônico-estéticas. Baladas existenciais de moldura acústica, divagações mezzo psicodélicas de apelo intimista. “From Home” é pequena gema que lembra o melhor do Why?, de Yoni Wolf. E “Pay Off” é deliciosamente estranha, com algo da catarse gospel do Woven Hand, do doidão David Eugene Edwards. Emil Amos é mais um desses artistas inquietos que revelam, em sua ética de trabalho, um pouco do espírito da época em que vivemos. Cabeça a milhão, referências mil, está sempre flertando com a musa. Sem pudores de editor (de si mesmo), escreveu, gravou… virou disco!
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