Elétrico e com a mesma banda já há algum tempo, Lobão consolida boa fase junto com o público
O sucesso da recém lançada biografia e da caixa retrospectiva da década de 80 não mexeram com a cabeça de Lobão. Ao menos se julgarmos pelo repertório apresentado ontem à noite, para um Circo Voador cheio como nos bons tempos. Com a mesma banda já há uns dois anos, Lobão basicamente manteve o repertório do show anterior, em julho, tocando 26 músicas em exatas duas horas, incluindo todos os sucessos com os quais ele fez as pazes nos últimos tempos. Ou seja: noite clássica com o público se esbaldando a valer. Como de hábito, Lobão prega peças em todos e em si próprio: não tocou o que disse que ia tocar, em vários veículos da mídia, a ponto de deixar de fora até umas das duas “novas”, “Song For Sampa”. Melhor assim.
Lobão redescobriu o prazer do solo de guitarra
De cara, dois resgates do ainda ignorado álbum “Nostalgia da Modernidade”. “Mal de Amor”, que se revela um rock pesado com um riff colante, e “O Jogo Não Valeu”. As duas despertam um interesse incomum do público, em se tratando de artistas consagrados nos anos 80, prova de que o trabalho de Lobão não ficou parado no tempo. O primeiro hit foi “Canos Silenciosos”, que, ironicamente, ficou fora da seleção de Lobão para a caixa“81-91”. O riff espetacular e a letra boêmia levantaram a plateia pela primeira vez na noite. Em “Bambino”, a anterior, Lobão já havia arrebentado a corda de uma de suas muitas guitarras, solando feito “pinto no lixo”. Uma das virtudes (re)descobertas por Lobão desde que fez as pazes com a guitarra foi a do solo, muito pelo entrosamento com o guitarrista André Caccia Bava. Mais adiante, em “Robô, Robôa”, uma música simples até, do boicotado disco de estreia, eles mandam um duelo de fazer inveja às twins guitars do Wishbone Ash e aos descendentes Iron Maiden.
“Boa noite rapaziada!” foi a senha para o início do show, mas o espirituoso Lobão, sempre com uma inesgotável taça de vinho branco, mandou vária tiradas. Se autodenomina o “penúltimo romântico”, numa referência a Lulu Santos, antes de mandar a dobradinha “Por Tudo Que For”/“Noite e Dia”; pede o tradicional “artefato” ao público, do qual só usufrui antes de “Rádio Blá”; cita Pepeu Gomes no funk rock “Decadence Avec Elegance”, que voltou à tona por conta do remake de uma novela global; e anuncia que “Help!”, dos Beatles, tocada no bis, tem uma versão “agoro-brega-universitário”(?!). Com tanta música legal, o Grande Lobo nem precisava da ajuda de Lennon e McCartney. Em alguns hits, com o público cantando tudo, Lobão curte uma ducha reconfortante no ego. Dá gosto de vez o prazer na cara do artista através do reconhecimento popular, numa prova de que Lobão não tem nada que reclamar do lugar que ocupa no imaginário pop coletivo e no cancioneiro nacional.
Não faltou empolgação de Lobão no show de ontem
Tempos atrás, quando o músico se negava a tocar essa ou aquela música, atraía a antipatia do público, que, de seu lado, só curtia os sucessos da fase inicial/grandes gravadoras. Agora, não. Músicas da fase mais oculta de Lobão são muito bem aceitas e têm repercussão das mais interessantes na plateia. Foi o que aconteceu com as ótimas “A Queda” e “A Vida é Doce”, e havia até pedidos aqui e acolá de “Samba da Caixa Preta” e “Você e a Noite Escura”, numa total inversão de um panorama ainda recente na carreira de Lobão. Prova cristalina de que os grandes sucessos não se encerram em si próprios, mas fazem a ponte para outras músicas que passam, também, a ter o seu lugar na predileção dos fãs.
Quem pensou que “Me Chama”, tocada lá pela metade do show, seria o ponto alto da noite, teve que rever o conceito quando “Vida Louca Vida”, “Vida Bandida” e “Rádio Blá” encerraram o set levando o Circo Voador à uma catarse espetacular. Em “Vou Te Levar”, já no bis, Marcelo Yuka foi ao palco para falar com Lobão e teve o nome gritado pela platéia. Era a hora do encerramento com “Corações Psicodélicos”, espécie de trilha sonora permanente para qualquer tipo de festa. Como de hábito, a abertura ficou por conta do Rockz, que voltou a mostrar que tem evoluído bastante como banda de rock dos anos 00 que não quer ficar parada no tempo. Só falta agora partir para gravar um novo álbum, assim como Lobão, que, ao fechar um ciclo de sua história, tem a oportunidade de produzir um disco de inéditas. Como se sabe, o tempo não pára.
Lobão só no groove malandro da guitarra...
Set list completo:
1- Mal de Amor
2- O jogo Não Valeu
3- Bambino
4- Canos Silenciosos
5- Decadence Avec Elegance
6- Os Tipos Que Eu Não Fui
7- El Desdichado II
8- Mais Uma Vez
9- A Queda
10- A Vida é Doce
11- Lullaby
12- Por Tudo que For
13- Noite e Dia
14- Me Chama
15- Das Tripas Coração
16- Ronaldo Foi Pra Guerra
17- Robô, Robôa
18- Vida Louca Vida
19- Vida Bandida
20- Rádio Blá
Bis
21- Mal Nenhum
22- Help!
23- Essa Noite Não
24- Vou Te Levar
25- Corações Psicodélicos
Bis
26- Sozinha Minha
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