(por João Barone)
Se tem alguma coisa que me deixa chateado é aquele papo inútil sobre quem é melhor, Paul ou John? Claro que tem gente que gosta mais de um que do outro, mas qualquer tentativa de categorizar Paul melhor que John ou vice-versa, é uma grande besteira.
A passagem de Paul pelo Brasil desta vez me deixou com um sentimento profundo de gratidão aos deuses da música. Ainda mais pela grande dádiva de ter um destes deuses aqui na Terra entre nós, o Mestre das Melodias, James Paul MacCartney. Quando fui assistir o show no Maracanã, décadas atrás, estava um pouco incomodado com aquela sempre presente imagem do Mr Nice Guy que o Paul apresentava, mas esse problema era meu, não dele... Tanto que passados todos esses anos, estou vendo o que antes achava um defeito de forma diferente, agora como uma das grandes virtudes de Paul, esse verdadeiro Peter Pan da música, que não envelhece nunca.
Podemos teorizar um monte de baboseiras sobre a importância do Paul e dos Beatles para a música, mas o que eu atentei agora é o seguinte: Se fossemos contar em uma mão as grandes personalidades vivas ou já idas que são os verdadeiros pais do rock, os que inventaram essa brincadeira, Paul estará nesta conta, junto com Chuck Berry, Little Richards, ELVIS e John Lennon. Certamente essa lista se expande para muitas entrelinhas, desde a origem do rock no blues, r&b e gosspell, depois, das muitas bandas americanas e do brit pop e os grandes monstros da psicodelia dos anos 60, muitos que dividiram com os Beatles uma época de ouro da música pop sem precedentes na história, contando até aqui no Brasil com alguns representantes do calibre dos Mutantes, Gil, Caetano e Raul.
Isso tudo pra dizer que nesse show de Sir MacCartney aqui no Brasil, pude ver claramente como é um gênio em ação. Eu não vi Pelé jogar ao vivo, só pela tv, mas ver Paul em cima do palco de alguma forma me fez sentir tudo que de mais genial já feito pela raça humana transparecer na minha frente. Ele é Michelangelo, Picasso, Mozart, Shakespeare, Carlitos, Mickey Mouse e Andy Warhol juntos.
Qualquer tentativa de explicar essa grandeza, essa unanimidade, a capacidade incomum da expressão artística na persona de Paul, tudo fica pequeno. Ele não parece ter 68 anos. Ele era dos Beatles. Não importa. Ele então, não está nem aí! Quem lembra de quando uma vez Paul se disfarçou de músico de rua e foi tocar no metrô de Londres, viu agora como ele driblou todo mundo para andar de bicicleta num parque de São Paulo. Exige muita cabeça para administrar o peso monumental de ser um mito e tentar manter uma vida normal. Imagine só a carga emocional de quando Paul olhou para um lado, John se foi, olhou para outro, Linda se foi, olhou de novo, então foi George. Mas Paul está lá, firme, ainda achando que vale a pena tudo isso. Levou um tombinho num dos shows. O rei caiu, mas a realeza continuou de pé. Que voz!
Que carisma! Que musicalidade! Que joie de vivre! A Humanidade precisa de expoentes assim, os que nos fazem acreditar que tudo ainda vale a pena (escrevo isso no meio das notícias sobre a verdadeira guerra em andamento no Rio).
A genialidade existe em muitas formas, usa muitos canais, mas um de seus aspectos mais marcantes é a facilidade, o gesto natural com que os gênios se manifestam. Garrincha fazia todo mundo achar que jogar bola era fácil, Barishnikov faz parecer fácil seus movimentos. Paul parece que nasceu na frente de um piano onde burilou a introdução de Lady Madonna, esbarrou os dedos nas teclas sem querer e compôs Let it Be, bateu o cotovelo e escreveu Maybe I´m Amazed, assim como criou as linhas de baixo espetaculares de Day Tripper e Get Back, além das inspiradas guitarras que já gravou e que tocou durante o show, revezando com o baixo.
Um aspecto interessante foi como o aparato usado no show não se sobrepôs à música. Os telões e a luz complementaram o incrível repertório, ao contrário da maioria dos mega-shows, onde tirados os efeitos especiais, não sobra muita música. Os músicos acompanhando Paul eram todos muito proficientes, com destaque para o carismático baterista Abe Laboriel Jr, filho de um dos maiores baixistas da história da música moderna, Abe Laboriel, que assim como o filho baterista, já gravou com inúmeros artistas.
Ainda sob forte impacto depois do último show em São Paulo - que poderia mudar de nome para São Paul - me pergunto se essas mais de 150 mil pessoas que estiveram presentes nos três shows do Paul no Brasil se deram conta que estavam diante de um dos caras que inventou o rock. Mas isso também é irrelevante.
Que coragem ele tem! Mais fácil seria pendurar o seu baixo violino Hofner e viver da nostalgia. Mas não, Paul está aí e parece que ainda vai estar por muito tempo, depois da lição que nos deixou com seus shows no Brasil. Obrigado pela inspiração, Paul! And please: GET BACK again sometime!
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