Caleidoscópio de sucessos dos Paralamas
(Foto: Mauricio Valladares/divulgação)
Pedro Antunes
Lá se foram 28 anos desde que a história de um tal Vital, que passou a se sentir total depois de comprar sua moto, invadiu as rádios de todo o País. Um ano de enorme efervescência musical, no Brasil e no mundo. O Iron Maiden lançou disco Piece of Mind. O U2, o álbum War. Madonna estreava com CD homônimo, que venderia 8 milhões de cópias. Michael Jackson mostrava pela primeira vez o famoso passo moonwalk. Por aqui, Titãs e Capital Inicial foram criados. O Kid Abelha lançava o primeiro compacto, Pintura Íntima. E, dentro desse turbilhão todo, estavam Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone, fazendo um pop rock cheio de referências de reggae e ska. Eles formava o Paralamas do Sucesso, nome um tanto prepotente criado por Bi, mas que se mostrou muito acertado com o decorrer da carreira da banda nessas três últimas décadas.
A cada dez anos, o grupo carioca compilava seus sucessos no projeto Arquivo. Foram três: Arquivo (1990), Arquivo II (2000) e Arquivo III (2010). Um total de 40 hits. E esse número impressiona. É quase impossível não saber cantarolar praticamente todas as músicas. Convenhamos, é rara uma banda de pop rock no Brasil com uma carreira tão longeva e de tamanho sucesso. Ainda mais um grupo como o Paralamas, que teve de superar o trauma do acidente de ultraleve sofrido por Herbert, em 2001, que deixou sequelas no vocalista.
Em cada disco deste projeto é possível detectar a evolução, do crescimento ao auge e, por fim, a sobrevivência da banda. Mas, para o trio, essa perspectiva é de difícil distinção. De tão inseridos em todos esses contextos, explica Barone, é praticamente impossível perceber as nuances com o passar dos anos, dos discos, dos hits. “É difícil olhar para o próprio umbigo. O que mais fica latente é que os últimos dez anos já são de uma sobrevida, com a volta do Herbert”, analisa o baterista, de 48 anos.
Perto dos 80
Apesar das quase três décadas de carreira, Barone refuta a ideia de que se tornaram uma banda que vive do passado. Uma total fuga do sentimento nostálgico que costuma reinar entre bandas trintonas, ou entre as pessoas que se aproximam dos 50 anos de vida. Barone é o mais novo da turma. Bi e Herbert chegam aos 50 este ano. “Sempre rejeitamos isso. Estamos mais perto dos 80 anos do que dos anos 80”, diz Barone. Apesar de negar o sentimento nostálgico, é preciso relembrar hits. “Todo mundo quer ouvir Óculos (do disco O Passo do Lui, de 1984) no show. É claro que precisamos tocar as músicas antigas, mas nunca apelamos”.
Nem todos os sucessos entram no repertório da banda. Química, do disco de estreia, Cinema Mudo, de 1983, costuma ficar fora. “O Herbert queria tocar, mas fica difícil”, conta Barone. A letra escrita por Renato Russo não combina com a atual fase do Paralamas (“Não saco nada de física / Literatura ou gramática / Só gosto de educação sexual / E odeio química!”). “Fica meio anacrônico, né?”, diz Barone.
Acidente
Fica evidente, no Arquivo III, que o trabalho do Paralamas do Sucesso penou com o acidente sofrido por Herbert, que culminou na morte de sua mulher, Lucy. Após o desastre, o vocalista ficou 44 dias internado e perdeu o movimento das pernas. A banda levou quatro anos para lançar um disco de inéditas. “Esses anos passaram muito rápido. Acho que esse último Arquivo mostra que estamos retomando a carreira. Estamos nos reinventando”, completa João Barone.
E é por isso que a caixa com os três discos se mostra tão bacana para quem gosta ou gostou do Paralamas. Não é, claro, uma abordagem profunda na carreira. São somente os sucessos, sem aqueles deliciosos lado B, ou encartes com histórias de bastidores da banda. A única diferença entre comprar os três discos separados e esse box é a caixa na qual os volumes estão reunidos. E ouvir Caleidoscópio e Alagados, por exemplo, faz aflorar um sentimento de nostalgia. Queiram eles, ou não.
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