Cinco tiros disparados num dia frio de dezembro, em Nova York, há 30 anos, iriam causar uma das maiores tragédias da história da música. Um fã, identificado depois como Mark Chapman, matou o ex-beatle John Lennon, na porta de casa, o famoso edifício Dakota. O mundo custou a acreditar naquela notícia - Lennon era, para muitos, o cérebro pensante dos Beatles e, acima de tudo, o rosto mais visível de uma geração.
Ao contrário de seus contemporâneos, Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison, John Lennon não morreu devido ao abuso de drogas, mas confirmou a "maldição dos J” no rock. John foi viciado em heroína, mas conseguiu se recuperar – se livrou das drogas, mas não escapou do fanatismo e da doença mental de Chapman. Quando morreu, aos 40 anos, ele estava limpo e havia abandonado a exposição pública, para se transformar em um homem dedicado à família.
Lennon rompeu com os Beatles em 1970 e, durante a década seguinte, desenvolveu um trabalho solo. O casamento com a artista plástica japonesa Yoko Ono marcou essa nova fase, na qual John ganhou visibilidade como ativista político, personificando o idealismo libertário dos anos 60 e 70.
A inquietação do artista diante do comportamento da sociedade e do governo era contestada por meio de intervenções pacifistas, como a “bed-in”, na qual pregou o fim da guerra do Vietnã em uma cama, ao lado da esposa.
Em novembro de 1980, após cinco anos sem lançar um álbum, John retomou sua carreira musical e lançou “Double fantasy”, marcado pela parceria com Yoko.
Fãs deixam flores em homenagem a John Lennon, no Central Park em Nova York, na véspera dos 30 anos de aniversário do assassinato do ex-beatle (Foto: AP) A morte na porta de casa
No mês seguinte, no dia 8 de dezembro, o músico saiu de casa no edifício Dakota para trabalhar no estúdio Record Plant. Logo em seguida, foi abordado por um fã que lhe pediu um autógrafo no novo LP. John atendeu ao pedido e foi gentil com o homem que, horas mais tarde, iria lhe tirar a vida. Ao voltar para casa, onde iria pôr o filho Sean para dormir, foi assassinado na frente do prédio por Mark Chapman.
Mark tinha fixação por John. Imitava o ídolo constantemente e chegou até mesmo a se casar com uma japonesa mais velha, assim como Yoko. A idolatria afetou sua saúde mental e ele perdeu a noção da realidade: ao pedir demissão, assinou John Lennon, ao invés de escrever seu nome verdadeiro.
O fã planejou o ataque por acreditar que o ídolo era uma farsa e que não merecia viver, pois havia aderido a práticas consumistas e não agia mais conforme pregava em seus atos como militante pacifista. Chapman acreditava que o autor de “Imagine” e “Give peace a chance” não poderia viver em um prédio luxuoso como o Dakota e não merecia mais viver.
O assassino não fugiu do local e ficou parado, sem qualquer reação. Trazia o clássico “O apanhador no campo de centeio”, de J.D. Salinger, um livro que marcou gerações. O homem que matou Lennon foi condenado à prisão perpétua e está preso desde dezembro de 1980.
Chapman assassinou Lennon a tiros em frente ao
prédio em que o músico vivia em NY. (Foto: AFP) Arrependimento, sim; perdão, não
Treze anos depois, Chapman disse, em entrevista, que estava arrependido, mas não ousava pedir perdão, pois tinha dimensão do dano que sua atitude gerou. Em 2000, ele recorreu pela primeira vez e pediu a liberdade condicional, mas os argumentos contrários de Yoko Ono convenceram a Justiça a não conceder o benefício. Este ano, o sexto pedido de Chapman teve a mesma reação negativa.
Ao atirar em John Lennon, Mark Chapman também impediu o retorno dos Beatles, que sempre foi aguardado pelos fãs, após o fim do grupo em 70. Mas o interesse pela banda de Liverpool atravessa gerações e serve como uma espécie de elo de ligação entre gerações - avós, pais e netos ainda se encantam com a música dos “Fab Four” .
O recente lançamento do “The Beatles: Rock Band”, do game Guitar Hero, evidencia o fenômeno de vendas que sobrevive ao tempo, quase meio século depois. Finalmente liberados para venda na loja virtual iTunes, os discos dos Beatles voltaram ao topo das paradas do mercado digital.
A sobrevida da beatlemania ficou evidente também nos recentes shows de Paul McCartney no Brasil. Famílias lotaram os estádios e se emocionaram no espetáculo solo do principal parceiro de Lennon. Paul arrancou lágrimas do público ao dedicar a música “Here, Today” ao amigo John: “and if I say I really knew you well/ what would your answer be/ if you were here today...”.
08/12/2010 07h10 - Atualizado em
08/12/2010 07h17 Nos 30 anos da morte de Lennon, discografia do ex-beatle tem reedição
Gravadora lança todos os trabalhos do músico em edições remasterizadas.
Ouça trechos e confira curiosidades sobre os oito LPs de estúdio de John.
Braulio LorentzDo G1, em São Paulo
John Lennon e Yoko Ono (Foto: Divulgação) Muitos fãs (beatlemaníacos ou não) continuam a chorar a morte de John Lennon, ainda mais nesta quarta-feira (8) em que se completam 30 anos do assassinato do ex-beatle. Mas a data também é uma oportunidade para repassar a discografia da carreira solo do homem que escreveu canções de sucesso como "Imagine", “Whatever gets you thru the night” e “(Just like) starting over”, mesmo bem distante de seus companheiros de Beatles.
Por conta das três décadas da morte do cantor e compositor, que teria feito 60 anos de idade no último dia 9 de outubro, a gravadora EMI despejou nas lojas os oito álbuns solo remasterizados do músico inglês, além de novos títulos, incluindo "Double fantasy stripped down", "Power to the people: the hits", "Gimme some truth" e a "John Lennon signature box", que não sai por menos de R$ 1.000.
A caixa importada contém 11 CDs e traz 13 gravações caseiras inéditas, somadas a textos que Yoko Ono, Sean Lennon e Julian Lennon escreveram especialmente para o box. Os discos avulsos, todos remasterizados, custam em média R$ 34,90. A chegada dos produtos faz parte da campanha global de relançamento do catálogo de John, supervisionada por Yoko Ono, viúva e parceira musical do cantor.
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