Keith Richards já se sentiu traído por Mick Jagger
Durante quase meio século, os Rolling Stones foram uma verdadeira fábrica de histórias, polêmicas e sucessos. E Keith Richards esteve sempre no olho do furacão Stones.
Em "Life", "Vida", seu livro de memórias, ele não deixa nada de fora. Muitas mulheres, todas as drogas, diversas polêmicas e, claro, doses maciças de rock´n´roll.
A gente lê a biografia do Keith Richards e não sabe nem por onde começar a conversa. Mas é quase irresistível não começar falando da sua relação com as drogas. Até porque, o livro parece ter sido escrito para mostrar que ele não é mais um roqueiro drogado.
Keith Richards: Não era o objetivo principal, mas era uma fama que eu não queria mais. Porém, tenho que admitir: eu dei todos os motivos para isso. Mas eu não quero ser lembrado unicamente por isso. Afinal por trás desse roqueiro existe um pai de família. Eu sempre fui assim. Eu tenho sido um pai de família dedicado desde que eu tinha 26 anos.
Zeca Camargo: Mas a gente sabe que foram muitas mulheres na sua vida, na estrada. E você conta no livro que nunca precisou dar cantadas.
Keith Richards: É o meu truque. Eu nunca usei aquelas cantadas cafonas do tipo ‘oi, tudo bem?’. Você tem que ser original. Eu preferia apenas usar o olhar.
Zeca: Mas você podia fazer isso. Afinal, é um Stone.
Keith Richards: Claro. Mas isso seria óbvio demais. Esse não é o meu estilo. Eu sou muito elegante.
Zeca: E as fãs faziam mesmo qualquer coisa para ficar com um Stone?
Keith Richards: O sexo era fácil, claro, mas havia um lado humano, carinhoso. Quando eu descia do palco, eu estava moído, com dores nas costas. E elas serviam mais como enfermeiras. Eram a Cruz Vermelha do rock.
Mick Jagger está por todo o livro. É verdade que a amizade desandou, que vocês nem se falam mais?
Keith Richards: Existe um desejo muito forte de separar Mick e eu. Houve sim um momento em que eu achei que o Mick estava se aproveitando da fama dos Stones para se autopromover. E para mim, isso é traição. É deslealdade.
Zeca: Você se sentiu traído não apenas como membro dos Stones, mas como amigo?
Keith Richards: Sim. Ele não me disse nada na época. Eu tive que descobrir tudo a partir de terceiros. E ele não foi o amigo que eu acreditava que ele era.
Zeca: No livro você fala como seus amigos são importantes na sua vida e faz uma lista deles. O nome dele não está nela. Você diria que hoje ele é seu amigo?
Keith Richards: Nós somos mais do que irmãos. E irmãos têm que ser amigos. Mas irmãos brigam. Eu acho que o pessoal sempre transformou pequenos comentários em turbilhões de fofocas. É o caso da distância entre Mick e eu, que realmente nunca existiu. Eu sei que ele não ficou feliz com algumas coisas que estão no livro. Mas nós conversamos. Eu falei que essa era a história do meu ponto de vista. E disse a ele: você sempre poderá escrever a sua.
Zeca: Você foi super sincero no livro sobre uso de drogas.
Keith Richards: Elas me ajudavam a lidar com fama, tentar manter minha vida privada. Era como uma proteção. Era um experimento, eu admito que durou um pouco demais. Mas eu consegui colocar um ponto final nele.
Keith se orgulha de ser um ótimo pai de família. Mas como um cara como ele criou os filhos?
Keith Richards: Meus filhos foram educados para serem muito centrados. Até mesmo caretas. Acho que não me puxaram. Eles sabiam o pai que tinham. Mas acho que você não precisa estar lá todos os dias. Eles só precisam saber que eles têm um pai que ama eles.
Zeca: No livro, você conta uma história familiar pouco conhecida: a morte de um filho com apenas dois meses de idade, do seu primeiro casamento. E você estava numa turnê quando ele morreu, longe de casa.
Keith Richards: Soube da notícia um pouco antes do show, e decidi subir no palco assim mesmo. Teria sido mais fácil cancelar o show, claro, mas achei necessário seguir em frente. Eu não tenho o poder de trazer as pessoas de volta. Eu precisava fazer isso por mim, pelo meu filho.
O palco é tudo para Keith. Por isso, a resposta para a pergunta "por que continuar tocando?", vem rápida.
Keith Richards: Por que não? Eu amo isso. É isso que eu sei fazer. E eu tenho uma grande banda que ainda quer trabalhar. Com sorte, eu espero, no ano que vem nós vamos estar na estrada de novo.
Zeca: Você ainda lembra do show dos Stones em Copacabana, em 2006?
Keith Richards: Claro. Eu ainda estou me recuperando daquela noite.
Mas a melhor história de Keith no Brasil é do final dos anos 60, quando ele veio ao Rio de Janeiro de férias.
Keith Richards: Lembro-me que encontrei um músico de rua, um cara negro que era cego que tinha um violão lindo muito antigo e ele tocava maravilhosamente bem. E nós trocamos violões. No dele estava escrito: "Deus está presente".
Nosso tempo de conversa já estava no fim. Mas deu tempo de Keith mandar um recado para a próxima visita dos Stones por aqui.
Keith Richards: Preparem as praias!
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