Blues em Canoa Quebrada: Big Joe Manfra (guitarra), Jefferson Gonçalves (gaita), Taryn Szpilman (voz) e Kléber Dias (guitarra) participaram do grande encontro musical à beira-mar FOTOS: MARÍLIA CAMELO |
A terceira edição do Festival Canoa Blues, realizada no fim de semana na paradisíaca praia do litoral oeste do Ceará, Canoa Quebrada, reuniu o supra-sumo do blues nacional.
Grandes nomes, como Big Joe Manfra, Taryn Szpilman, Jeffeson Gonçalves, Marcos Ottaviano, Kiko Moura, Felipe Cazaux, Artur Menezes, Over Trio, o argentino Nicolas Smoljan, dentre outros, fizeram subir a temperatura durante os três dias de Festival. Foi uma viagem pelo universo negro americano. A carioca Taryn Szpilman, por exemplo, que trouxe o show de seu derradeiro CD "Bluezz", fez um verdadeiro tributo às vertentes que têm origem no blues, como jazz, soul e rock.
No show, clássicos que mudaram a história da música entre os anos 30 e 60 levaram conhecimento, em uma apresentação digna das grandes divas. Com novos arranjos e releituras para Billie Holiday ("Don´t explain"), Aretha Franklin ("Evil Gal Blues"), Janis Joplin ("Kozmic Blues"), Jimi Hendrix ("Angle"); Ray Charles ("Georgia on my mind"); Led Zeppelin ("Rock & roll); Etta James e Willie Dixon ("I just wanna make love to you"), dentre outras, a loira de olhos azuis, "com a alma mais negra que existe", disse a que veio.
"Passeamos pelos principais nomes das décadas de 30 a 60. Esse repertório é muito forte, são músicas que representam astros e estrelas imortais, mas não só no blues". Mas o ponto alto da apresentação foi a homenagem a Paul McCartney, com "Maybe I´m Amazed", música que "não entrou no último disco dos Beatles, mas está no primeiro de Paul", esclarece ao público entre uma música e outra.
"Durante o show, conto a história, comento alguma curiosidade, porque, apesar de não estarmos aqui fazendo a música mais popular do Brasil, toca muita gente que quer saber mais", diz Taryn.
Espetáculo a parte foi a apresentação do bluesmen carioca Big Joe Manfra que, em 2010, completa 15 anos de carreira. Com 57 quilos a menos, e prometendo diminuir ainda mais, o diretor da "Blues Time Records", atualmente o maior selo do gênero do País, está em estúdio preparando o novo CD, com lançamento previsto para o início de 2011. "O Festival Canoa Blues reúne gente de peso (risos). O Brasil hoje tem uma cena interessante e o Ceará está inserido nesse circuito".
Para o músico e organizador do evento, Roberto Maciel, o Festival Canoa Blues que, esse ano, entrou para o calendário oficial do Estado, incrementa diversos setores.
"O festival deu uma boa mexida na economia local, tivemos 100% de ocupação hoteleira, além de diversos empregos e rendas gerados para moradores da região".
Além dos shows
O diretor do evento destacou, também, as atividades de ações sociais envolvendo crianças e jovens locais, como as aulas de iniciação à gaita, ministradas pelos educadores Di Lennon e Rodrigo Bezerra.
"Aqui em Canoa realizamos oficina de tecido com técnica circense, ministrado pela professora carioca Juliana Longuinho. Também apoiamos um evento em Icapuí, chamado ´Arte Indutora de Emprego, Renda e Transformação Social´. Trabalhamos com 50 crianças, atendidas pela ONG Brasil Cidadão. Cada uma recebeu uma gaita, apostila e teve aulas gratuitas", destacou Maciel.
O músico cearense Roberto Lessa ministrou palestra show sobre a "História do blues e suas conexões com a música pop atual" e uma exposição de fotografias com temática do blues, espalhadas por diversos pontos de Canoa Quebrada.
Jam-session
O domingo à tarde, como nas edições anteriores do evento, ficou reservado para a jam session à beira mar, na barraca "Quero Mais". No cenário deslumbrante, com sol rachando, o entra e sai de músicos com suas gaitas, guitarras, contrabaixos e baterias fez a festa para turistas e moradores, em oportunidade ímpar, e gratuita, de ver o todo estilo e a elegância do blues.
"A responsabilidade aumenta, e muito, para o ano que vem. Tivemos aqui a demonstração de como o músico brasileiro está qualificado nesse cenário. Não é mais uma promessa, já é uma realidade", avalia Roberto Maciel. "A ideia é que festivais de altíssima qualidade, como o de Canoa ou de Guaramiranga, se estendam por outros locais".
Na plateia, turistas como Juliana e Júlio, com os filhos pequenos, Duda e Pedro. Todos maravilhados com a movimentação na pequena praia. "Somos de Santa Catarina, mas sempre estamos viajando. Não esperava encontrar um festival desse nível aqui, nessa praia tão distante. Foi uma surpresa muito agradável. Um convite para voltar", disse Juliana.
Entrevista
BIG JOE MANFRA*
"A música, mas, principalmente o blues, lida diretamente com a emoção"
Como surgiu o nome "Big Joe Manfra"?
Quer saber mesmo? (risos). Para isso vou ter que dizer meu nome! Então, lá vai. Me chamo Marfídio Vieira Machado Neto. Com um nome desse, quem precisa de apelido? Mas, na década de 90, quando morei fora do País, estudando na "Guitar Institute of Technology Hollywody", que fica em Los Angeles, na Califórnia, eles só conseguiam dizer Manfrídio, daí diminuíram para Manfra. Certo dia, um professor texano me chamou de "Big Joe" e aquilo ficou na memória. Quando voltei para o Brasil, em 1995, ainda sem pretensão de enveredar pelo blues, me convidaram para fazer um show solo. Mas, até então, usava o nome Marfídio. De última hora, veio à lembrança esse nome "Big Joe Manfra" e ficou até hoje.
Há muita diversidade no show. Que influências são essas?
Meu trabalho tem um pé firme no blues, mas com características de jazz, funk e rock. Meu primeiro CD é mais tradicional, traz um pouco disso. Mas vi que gosto dessa praia toda. Não quero ficar preso a um estilo. Depois de quatro CDs e um DVD, aliás, o primeiro DVD de blues lançado no Brasil, já tenho minha visão. É um blues-jazz-funk-rock. Estou fazendo um novo CD novo, que deve ser lançado no começo de 2011.
Três artistas do festival Canoa Blues trazem o selo da Blues Time Records. Você continua à frente desse trabalho?
Certamente. E completando 10 anos de existência como o maior selo de blues brasileiro. Temos no casting nomes como Magic Slim, Coco Montoya, Roy Rogers, Jefferson Gonçalves, Táryn Szpilman, Felipe Cazaux, Artur Menezes, e outros. Comecei com o Jefferson Gonçalves (gaitista), mas ele precisou tocar outros trabalhos. A Blues Time hoje também representa a Blind Pig Records, que tem 33 anos de estrada, e um catálogo imenso.
E essa intensidade no palco?
Ah, quando está lá tem que rolar 100%. Quando se faz trabalho solo, artístico, com teu nome, só vai com personalidade. E curto mesmo muito vigor e energia. A música, mas, principalmente o blues, lida diretamente com a emoção. Há situações em que fico num estado emocional muito forte, de quase chegar às lágrimas. Não que você vá abrir o berreiro no palco, mas fica muito tocado, é uma descarga de energia muito grande.
Volta ao Ceará quando?
Logo, logo. Próximo mês, dia 14 de novembro, um domingo, estaremos na cidade do Crato, no Cariri, com a turnê do gaitista americano Peter Madcat, que tem um CD gravado com a gente. O Jefferson Gonçalves também estará lá. Será um celebração de gaita. Gosto muito do Ceará e esse Festival aqui em Canoa Quebrada, que une turismo, lugar bonito e boa música, é uma fórmula perfeita. Espero que o Canoa Blues tenha vida longa.
*Guitarrista e diretor do selo Blues Time Records
NATERCIA ROCHA
ENVIADA A CANOA QUEBRADA
Nenhum comentário:
Postar um comentário