Por que ficamos tão acostumados a julgar o valor da música, apontar seus defeitos e qualidades simplesmente por conta do nosso gosto pessoal? Toda essa história chega a ter consequências absurdas, transformando o gosto de alguns numa regra, ou lei, que somos obrigados a seguir sob pena de sermos ridicularizados, colocados de lado se não seguirmos os padrões criados por estes manipuladores de desejos.
A música é natural, viva, de alguma forma ela tem o poder de conectar os humanos com outras dimensões, trazer sentimentos dormentes à tona, nos faz chorar, rir, ter medo, coragem. Enfim, ela nos completa, nos ajudando a encontrar o caminho verdadeiro, sem a imposição de livros sagrados, templos ou outras histórias que parecem ser mais contos da Carochinha do que uma descrição histórica da realidade.
Em muitas culturas, principalmente em várias tribos africanas, o conceito de música boa ou ruim não existe, a música é simplesmente música, eles não entedem o conceito de julgar o seu valor. Primeiro porque eles não a comercializam e segundo porque ela é usada em momentos importantes da vida tribal, como nascimentos, casamentos, puberdade e outras cerimônias, onde o dinheiro não exerce o seu poder corrupto. Ela faz parte da vida, do crescimento e do auto-conhecimento de cada um de nós, você sendo músico ou não.
Muita gente se acha superior porque gosta de certo estilo musical, principalmente os amantes do jazz e da música clássica e nem mesmo consideram música aquilo que não gostam. Isso é arrogância pura. São músicos que não se misturam por se sentirem superiores, até humilhando as pessoas por causa desta suposta superioridade. Pior ainda são os pseudo fãs musicais que não tocam “porra” nenhuma, escutam música por causa de valores nacionalistas, ou por qualquer outro motivo patético como este, e se sentem no direito de julgar tudo, mesmo não sabendo nada. Com isto foi criada uma profissão muito estranha, a do crítico musical, ou seja, a lei quando se fala em “qualidade” musical. Estes “Cardeais” da qualidade musical são de dar pena, apesar de alguns se limitarem a dar a sua opinião pura e sincera, mas mesmo assim é muito estranho que muita gente dependa de um crítico para escutar algo de novo.
Precisamos disso realmente? Será que a gente não tem capacidade de escolher as coisas de que a gente nescessita? O que seria de Hermeto Pascoal, Igor Stravinski, Frank Zappa ou o Calypso – sim o Calypso aqui do Brasil – se eles fossem se guiar pelos “Cardeais” da opinião musical, acatando suas leis de como deve ser feita uma música?
Outra consequência deste julgamento sem sentido são os prêmios musicais. A gente vê que não existe um prêmio que é unânime, simplesmente porque esta unanimidade não existe na música. O voto da maioria é considerada como “o melhor”, mas isso é uma imposição, uma ilusão. É como acontece em todas as eleições. Apesar de ser uma ferramenta fundamental para a Democracia, a gente tem o exemplo aqui mesmo no Brasil onde a maioria elege o que não é nescessariamente a melhor opção. Inclusive as pesquisas eleitorais já elegeram o nosso próximo presidente, muito antes das urnas serem usadas. É assim que encontramos o ideal, o melhor?
São constantes os ataques dos “Cardeais” musicais àquilo que eles não gostam, principalmente os mais velhos, que tem na sua juventude as melhores lembranças da vida, transformando o presente num lixo, pobre, sem inspiração, fazendo com que o crítico ataque de maneira vulgar e desrespeitosa a música que ele não entende. Por isso estes prêmios não têm nada a ver com a música em si, tem mais a ver com a política, moda, com o momento atual das coisas, abusando do poder dos rítmos e harmonias para fins egoístas e narcisistas.
Livre-se de preconceitos e respeite a música, respeite você mesmo, cada um de nós tem o poder – mas talvez ainda não tenhamos a capacidade – para decidir o que nescessitamos para viver. Se certo estilo de música existe, ela é digna de respeito, goste você ou não.
Abraço, play it loud!
Andreas Kisser
http://colunistas.yahoo.net/posts/4687.html
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