Arte por: Téo Brito
Texto de apresentação por: Marcelo Costa (Editor do Scream & Yell)
Você gosta de música? Se a resposta for sim, e é possível imaginar que a enorme maioria da população mundial responda afirmativamente, vamos propor uma brincadeira: pense nos Beatles. Pensou? Discos, histórias, canções. Várias coisas devem ter passado por sua cabeça neste fragmento de tempo, mas a brincadeira (de tons negros) segue pela via contrária: imagine um mundo sem os Beatles. Seria possível?
Sim, seria possível, claro, mas com certeza seria bem mais triste, menos inventivo e não seria nada estranho acreditar que ainda vivêssemos na idade das pedras da música pop. Buddy Holly, Chuck Berry, Carl Perkins e Phil Spector (para citar quatro nomes presentes nas famigeradas Decca Tapes) vieram antes, mas John, Paul, George e Ringo conseguiram absorver a História (com H maíusculo) e mudar o mundo tendo em mãos apenas guitarra, baixo, bateria e vocais. Parece sonho.
E não é a toa que, para milhares de pessoas, a passagem de Paul McCartney pelo Brasil seja encarada como sonho. Paul, um dos dois beatles vivos, era o melodista, o baixista canhoto objeto de inúmeras histórias surreais (a mais famosa diz que ele morreu em 1966) capaz de construir delicadas canções como “Yesterday”, melodias orquestrais como “Eleanor Rigby” ou explosões roqueiras como “Helter Skelter”.
Paul chega ao Brasil em um momento histórico que remete muito ao começo dos anos 60. A derrocada da indústria aliada ao boom da internet está desenhando um novo cenário do qual ninguém tem idéia de onde vai parar. Assim como quando os Beatles começaram, ninguém sabe o que vai acontecer. Daqui pra frente é tudo novidade. Pode soar assustador, mas também é instigante.
Não deixa de ser sintomático, então, ver a nova geração brasileira deitar-se sobre o repertório de Paul para uma revisão especial. Gente como Tulipa Ruiz e Apanhador Só, donos de dois dos grandes álbuns da música brasileira do ano, mais Vivendo do Ócio, The Name, Monique Maion, Sabonetes, Instiga, Seychelles e muitos outros que mostram nesta seleção organizada pelo Rock ‘n’ Beats que, apesar de estarmos em 2010, ainda é possível sonhar.
Voltando a questão inicial, caro leitor, você gosta de música? Se sim, divirta-se.
Indie on the Run - coletânea Rock 'n' Beats by indieontherun
Download da coletânea completa
Wannabe Jalva @ Say Say Say #paulgoesindie from Titi on Vimeo.
Valentinos @ Dance Tonight #paulgoesindie from Titi on Vimeo.
Cartolas @ She's Leaving Home #paulgoesindie from Titi on Vimeo.
Get Back
Antes de ser uma música, é um marco. Em cima de um telhado, ela anunciava aquela que era a última apresentação da carreira dos Beatles. Só foi lançada posteriormente, em 1970, no álbum Let It Be, que, depois de muita história envolvida, saiu pelas mãos do produtor Phil Spector.Reza a lenda que, durante os ensaios, Paul McCartney cantava o refrão (Get back to where you once belonged) olhando para Yoko Ono, a semente da discórdia do Fab Four.
Temporary Secretary
Temporary Secretary é um dos singles de McCartney II (1980), primeiro álbum de Paul depois do fim do Wings. Talvez esta seja uma das músicas mais peculiares já lançadas em todos os cinquenta anos de carreira do Sir, já que faz uso de sintetizadores abusados e de letra e voz cheias de deboche que a transformam em algo irritantemente convidativo.
Quando lançada, teve como B-side a também curiosa Secret Friend, uma viagem de impressionantes dez minutos.
All My Loving
Um dos grandes pontapés para a fase mais desesperadora da beatlemania. Transbordando juventude, Paul criou a carta que todas as mocinhas dos anos sessenta gostariam de receber de seus pretendentes que iriam passar um tempinho fora, combinada com uma melodia simples e radiofônica. Carro-chefe de With The Beatles (1969), foi uma das únicas composições para a qual Macca fez a letra antes da melodia.
Here, There And Everywhere
Se Yesterday não existisse, talvez Here, There And Everywhere ganhasse mais destaque e fosse uma das canções mais regravadas da história. Macca já declarou ser esta uma de suas composições preferidas na fase beatle, e assim pensava também John Lennon. Presente no impecável Revolver (1966), é mais um ode ao amor direto, sincero e profundo tão pregado em várias de suas composições, e que é um dos principais elementos que o qualificam como um dos melhores compositores de todos os tempos.
Dance Tonight
Dance Tonight é uma composição simples, quase bobinha, que se estivesse nas mãos de Lady Gaga, ou algo assim, seria trabalhada de uma maneira chiclete para as pistas de dança. Mas a graça vem de um bandolim, que lhe dá um ar de celebração tranquilizante. Foi a última música a entrar em Memory Almost Full (2007), último álbum lançado por McCartney, e nasceu depois de um momento gracinha-de-bebê de sua filha caçula Beatrice, que dançou ao som do instrumento.
Blackbird
Blackbird é daquelas músicas que nunca saem da mente. Presente no álbum The Beatles (Álbum Branco) de 1968, a faixa tem acompanhamento de violão inspirado em “Bourée em mi menor”, de Bach, e revela uma estrutura não usual, mas que encontra perfeito espaço. Segundo o próprio Paul, a canção é uma manifestação em relação aos conflitos sociais e direitos civis na América efervescente com as palavras de Martin Luther King, mas sobretudo à figura da mulher negra envolvida na questão.
Ram On
Lançada em Ram (1971), segundo álbum solo de Paul, a música, em seus menos de três minutos, tal como um mantra, mostra o beatle em sua forma minimalista. Verdadeiramente, a canção retrata um Paul apaixonado entregando seu coração a Linda embalado somente por voz e violão, marcando a fase pós-Wings.
Fine Line
Fine Line é o primeiro single de Chaos and Creation in the Backyard, álbum de 2005. A música mostra a boa performance de Paul ao piano e demonstra que será o instrumento dominante da faixa. Lembrando muito a fase Wings, Fine Line carrega como no álbum anterior, Driving Rain (2001), a grande marca de Paul: o contrabaixo que vibra e que até hoje se mostra influente na música pop.
She’s Leaving Home
“She’s Leaving Home” é uma das tantas pérolas do álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band de 1967, e surgiu de de uma notícia publicada no Daily Mail que narrava a história de uma jovem de dezessete anos que fugira de casa sem que seus pais soubessem. Embora pouco objetiva, a matéria foi suficiente para que Paul trabalhasse algumas melodias para depois ganhar o refrão característico, feito por John. Curiosamente, nesta canção nenhum beatle toca um instrumento: apenas a marcante orquestra de cordas confere a musicalidade necessária para que a canção tivesse a pureza daquele relato de jornal.
Good Day Sunshine
Good Day Sunshine é a canção ensolarada de Revolver (1969). Para escrevê-la, Paul contou com uma ajudinha de John Lennon, que faz os coros no refrão na companhia de Geroge Harrison. É tão repleta de boas vibrações que constantemente é utilizada como despertador nas missões do Ônibus Espacial da NASA.
Coming Up
“Eu estou crescendo, crescendo como uma flor”. É assim que Paul inicia McCartney II (1980). Com todos os instrumentos gravados por ele e sua esposa, Linda, a música agradou até mesmo a John Lennon, mas não era de todo novidade: ela já vinha sendo executada em algumas apresentações ao vivo do Wings.
Junk
Junk foi feita originalmente para The Beatles/White Album (1968), depois entraria em Abbey Road (1969), mas acabou em McCartney (1970), primeiro álbum solo de Paul. Escrita durante a lendária viagem do Fab Four à India, é um jogo de palavras que segue uma linha de raciocínio -- a dele, é claro. Possui uma versão instrumental, Singalong Junk, também inclusa no álbum.
I’m looking through you
I’m looking through you é uma das canções que marca a separação entre as duas fases mais marcantes dos Beatles: a beatlemania e as experimentações e instrumentos diferentes, entre as canções de amor e as mais sofisticadas musicalmente. Nela, Paul avalia o seu relacionamento com Jane Asher e mostra a maturidade que vinha a crescer nos garotos, ainda na época do Rubber Soul (1965).
You Wont See Me
You Won’t See Me, mais uma música sobre Jane Asher, nunca fez parte do repertorio de shows dos Beatles, mas a canção de Rubber Soul (1965) já foi tocada em muitas vezes por Paul, principalmente na turnê de 2005/06. A música mais longa dos Beatles até então, conta com Mal Evans, o gerente de turnê, tocando orgão.
Teddy Boy
“Essa é a história sobre um garoto chamado Ted” -- a melhor maneira de se explicar a música é justamente os primeiros versos dessa canção. Originalmente escrita para os Beatles, a música chegou a ser gravada algumas vezes, mas por causa das tensões na época de Let It Be, não havia sido finalizada. Com o fim da banda, Paul a regravou, e essa faz parte de seu primeiro disco solo, McCartney (1971)
Check My Machine
A primeira música gravada do McCartney II (1980) era para ser apenas um teste de equipamentos, mas acabou sendo lançada como lado b de Waterfalls. Assim como grande parte do álbum e diferentemente do resto do trabalho de Paul solo, a música tem uma pegada bem eletrônica, e é possível se ouvir um sample com a voz do Eufrazinho (sim, o desenho da Warner Bross) no íncio.
Say Say Say
Say Say Say é uma lembrança de tempos felizes quando dois gênios da música, Paul McCartney e Michael Jackson, ainda eram amigos e compunham juntos, antes do Rei do Pop resolver comprar os direitos autorais dos Beatles. A canção checou ao topo das paradas de sucessos, mesmo tendo seu clipe censurado na televisão americana. O divertido vídeo conta ainda com a participação de Linda McCartney e LaToya Jackson.
Drive my car
“Yes I’m gonna be a star, and maybe I love you” disse Paul em Drive My Car, mas a verdade é que ele já era um rockstar amado em 1965. No entando, a canção do Rubber Soul, como o músico já descreveu era um número de comédia inpirado em um “eufenismo para sexo vindo do blues”. A música teve a participação de Lennon em sua letra, que criou o título e queria lhe deixar um pouco mais apimentada, ou pelo menos o tanto que se era possível nos anos 60.
Every Night
Composta durante uma viagem para a Grécia, Every Night está em McCartney (1970). A belíssima música consegue ser sofisticada usando instrumentos simples e ser romântica fugindo do clichê. É uma ruptura com os Beatles para o ínicio do trabalho solo de Paul. Conta com o backing vocal de Linda, que caí perfeitamente bem com a estrutura da canção
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