Surpreendente!
Não há outro adjetivo para falar de "Into The Wild" o vigésimo terceiro albúm de estúdio da banda britânica no final dos anos 60, Uriah Heep. A formação da banda hoje só conta com um membro original, Mick Box, um dos vocais e guitarrista da banda desde 1969.
Em "Into The Wild" esqueça a possibilidade de faixas que soem adequadas ao atual momento do rock. O rock tradicional britânico tem como principal característica não mexer na receita do bolo: não há misturas, influências ou referências ao presente.
É impressionante que a banda apresente um disco com tanto vigor e qualidade para quem gosta do bom e velho rock and roll.
Se você já teve oportunidade de escutá-lo e teve a impressão de estar escutando o Deep Purple em seus melhores momentos, você não está de todo errado. Afinal os riffs matadores e o hammond tradicional são a cama das faixas da banda que já teve dezenas de formações. Só de bateristas foram seis!
A banda não lançava material inédito desde 2008 - "Wake The Sleeper", pois "Celebration" (2009) na verdade trazia regravações de algumas canções do próprio UH. Portanto a banda praticamente não parou uma vez que lançou 22 albúns de estúdio!
A primeira faixa Nail on the Head é rock inglês 60/70 sem que a auto-referência seja uma cópia descarada daquilo que a banda londrina produziu nos últimos 40 anos. O que é um grande alívio para fã. Quem curte Deep Purple, Cream, Led Zeppellin achará a faixa um espetáculo. Lá estão todas as características: hammond, guitarra suja e bateria veloz.
Depois temos a impressionantemente jovem I Can See You no melhor estilo Deep Purple/The Who e aqui faço um pedido de desculpas ao leitor mas as semelhanças entre a banda de Gillan e Mick Box é muito grande. Talvez seja por isso, que embora com fãs no mundo inteiro, a sombra do Purple tenha sido maior que a necessária. Faixa com vocal grudento. Música fantástica.
Depois temos a faixa que dá título ao disco, com grande peso e intro hammond, no melhor estilo Jon Lord, aqui pilotado pelo hábil Phil Lanzon, músico experiente que já tocou em diversos projetos entre eles o Sweet e Lionheart. Acordes simples mais bastante envolventes. O vigor e a alegria do vocalista Bernie Shaw ajudam muito a faixa, mais uma vez destacanto as intervenções de Lanzon.
Em Money Talk o peso setentista vai groveando por toda a faixa. Baixo "gordo" e "pesado". Sem qualquer espécie de exagero, parece que a banda está (re)começando sua carreira e é uma pena, que não tenhamos (ao menos no Rio de Janeiro) rádios que cedam espaço para bandas tradicionais e importantes para contarem a história do rock. Convenções mais uma vez muito semelhantes aos trabalhos do Purple em Fireball e Machine Head. Parece que o tempo não passou. Mais uma faixa - como gostam de dizer e escrever - matadora. Final apoteótico.
I´m ready mostra todo o potencial da banda (e de Bernie Shaw) para comporem uma canção que não menospreza uma excelente melodia, bons vocais e um arranjo pesado. Curioso que ouvimos alguns discos contemporâneos que 'pretendem' ter o som sujo e grave para emularem uma atmosfera setentista. Nunca será a mesma coisa sem a presença de um hammond e de uma história que envolva uma banda que realmente pertenceu ao movimento setentista inglês, fundamental para o entendimento e prazer de quem gosta de rock. A banda realmente parece pronta para retornar com muita força ao cenário.
Trail of Diamonds traz leveza e delicadeza para o disco. Até então pesado, somos envolvidos pelos falsetes e solfejos de Shaw, que a cada faixa surpreende pela versatilidade e por conta da tranquilidade com que entoa cada canção, sem fazer da sua voz um elemento destacado das canções mas sim parte da canção. Quando com 2:26 a canção se transforma, você tem plena certeza de que está escutando um grande disco de 2011. Embora uma faixa longa, não dá vontade de dar pause ou pular.
Agora temos Southern Star. Não há nada de muito complicado na combinação dos arranjos do UH mas existe uma sofisticação nas camadas musicais. A banda soa muitas vezes como o Queen - e a comparação não é nenhuma heresia - com bons arranjos vocais, timbres bem colocados. O disco é muito pra cima e bem perceptível para ouvidos menos acostumados com o som cru de 30 anos atrás.
Believe mantem o ritmo do disco com muito destaque para os teclados de Lanzon e o jeito "Toto" de fazer canções. Refrões com segundas vozes, guitarras muito agudas e peso. É a faixa com menos atenção recebida e talvez por isso a menor.
Lost é para você que gosta de fraseados conjuntos entre guitarra, baixo e teclado. As melodias escolhidas pela banda passam por um pleno bom gosto, porque o peso da canção não despreza em momento algum as possibilidades melódicas e vocais. Excelente faixa. Ouça como as frequencias médias/agudas de um hammond podem dar um ar assustador e fantástico a uma canção. Chover no mohado: mais uma grande faixa.
A canção T-Bird Angel talvez seja a faixa mais "comum" do disco, mas vale a conferida por todo o ambiente e que não destoa em nenhum momento do conceito do disco.
Temos em seguida Kiss of Freedom, mais um show de Bernie Shaw, com uma belíssima canção e um refrão apaixonante. Com arranjos muito condizentes com todo o disco, uma delicadeza e um serviço muito bem executado. A sinergia entre as faixas fazem com que o disco soe como uma enorme suíte. Destaque impecável (mais uma vez) para Phil Lanzon que "destrói" no solo final da canção.
O disco conta ainda com a faixa extra Hard Way To Learn, uma quase balada do UH que trabalha com os mesmos elementos do disco, muito peso, hammond e um entrosamento muito próximo do ideal, entre melodias e harmonias.
Disco que entra fácil na lista de melhores lançamentos do ano. Uma enorme e agradável surpresa.
01. Nail on the Head
02. I Can See You
03. Into The Wild
04. Money Talk
05. Trail of Diamonds
06. Lost
07. Believe
08. Southern Star
09. I'm Ready
10. T-bird Angel
11. Kiss of Freedom
12. Hard Way to Learn (Bonus Track)
Nota, 9,5
Daniel Junior - Música
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