Imbatível
No ultimo show da temporada no Brasil, U2 mostra poucas surpresas e reafirma a grandiosidade multimídia de uma banda que se recusa a deixar o topo. Fotos (do dia 9): MRossi/Divulgação e Site Oficial (5).
O espetáculo multimídia que o U2 tem apresentado nesta “360º Tour” não pode se chamado apenas de um show de rock. É, de fato, o suprassumo de excelentes canções do grupo que arrebata o mais comum dos cidadãos, percorrendo várias fases de mais de trinta anos de carreira. São rocks dos mais potentes com guitarras pesadas, batida e andamento de rock, cantados por um dos mais carismáticos frontman que o gênero já acolheu. Mas não há como deixar de lado o incrível espetáculo de interatividade proporcionado pelo palco exclusivamente projetado para esta turnê, e que tem com grande vedete um telão circular - na verdade um tronco de pirâmide de 24 lados de cabeça para baixo que se movimenta até engolir palco e músicos.Interatividade reforçada pela transmissão do áudio do show do dia 13, ao vivo, via internet (oficialmente para todos os países da América do Sul) para todo o mundo. “Podem baixar à vontade, esse show vai durar pra sempre”, disse Bono. “Só não deixe nosso empresário ouvir isso”, brincou, antes de iniciar “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”. O show começa no gás, com porradas que tiram o fôlego de Bono Vox. Em “I Will Follow”, a segunda, o grupo se porta como a banda de garagem que era quando a música foi criada. Bono se coloca com o pedestal do microfone inclinado, numa pose que seria repetida por todo o set. Mas o palco tem outras cartas na manga. A bateria gira o tempo todo sem que Larry Mullen Jr. pare de tocar, e passarelas se deslocam em sentido radial levando os músicos para uma pista bem no meio do público. Tudo isso em movimento faz o mais atento dos fãs ficar procurando onde está Bono, The Edge ou o estiloso Adam Clayton o tempo todo.
Bono ainda está um pouco esbaforido quando apresenta os músicos – dessa vez sem as piadinhas de praxe – em “Until The End Of The World”. The Edge se supera num solo daqueles, salvando uma música nem tão boa assim. De olho na transmissão on line, Bono define o público da América do Sul como “aquele que canta para a banda, em vez de a banda cantar para o público”, não por acaso em “I Still Haven’t Found…”, a tal música que qualquer um, morto ou vivo, sabe a letra. Engatada em “Pride”, que nunca se sabe se será tocada ou não, é aí que o bicho pega. A música bem que poderia ganhar uma versão ao vivo estendida, mas o quarteto insiste na visceralidade enxuta do hit que consagrou, e a platéia vem à baixo.
É em “Zooropa” que o telão entra em cena, oportunamente lembrando os tempos da “Zoo TV”, outra turnê grandiosa realizada pelo U2, ainda nos anos 90. Uma estrutura pantográfica desmembra as 24 telas fazendo pequenos pedaços se separarem entre si, até engolir os músicos no palco, como uma verdadeira nave espacial. De longe o espetáculo visual é impactante: parece uma tulipa gigante inclinada com imagens dos músicos também gigantes projetadas em todas as direções. Não há, na história dos concertos de rock, o registro de tamanha ousadia estética de vídeo e interatividade imagética. É a revolução, o futuro, acontecendo bem ali, ao vivo, na frente de mais de 90 mil pessoas.
Contrastando com tudo isso está a guitarra de The Edge, quase sempre de uma simplicidade cativante. Em “City Of Blind Lights”, ele saca o velho dedal do blues para mandar um solo de slide guitar que emociona a multidão. Antes, é Bono que demonstra boa forma ao levar às últimas conseqüências a interpretação de “Miss Sarajevo”, originalmente gravada com Luciano Pavarotti – caem por terra os boatos de que ele teria perdido a voz e o que, por isso, o show seria cancelado. Curiosamente, músicas mais recentes agradam ao público apontando para os melhores momentos da noite. Caso de “Vertigo”, que se transforma em prova de carga para o estádio, com citação a Rolling Stones, e a versão meia boca de “I’ll Go Crazy If I Don’t Go Crazy Tonight”, que leva o tímido Larry Mullen a dar seu passeio pelo palco, tocando um tamborzinho colegial.
Vale a lembrança de que, além de espetáculo multimídia global, a “360º Tour” é também a turnê de lançamento do álbum “No Line On The Horizon”, de 2009. O disco fornece quatro faixas (às vezes mais) ao show, numa prova que o U2 não é aquele medalhão acomodado que vive de hits do passado. A renovação é estética, mas, também, musical. A introdução marcial de “Sunday Bloody Sunday” desfaz a dúvida – ás vezes entra “New Year’s Day” ou até “Bad” – e, mesmo alterada, a música causa grande impacto no público. Cabe a “Walk On” o encerramento da primeira parte, bem de mansinho, mas com The Edge outra vez absoluto. A desnecessária participação de Seu Jorge até que não atrapalha. Ele, Bono e The Edge pedem o cantarolar da platéia para uma versão torta de “The Model” (música do Kraftwerk regravada no disco do brasileiro) e o resultado beira o patético. Uma música a mais do U2 certamente faria a noite ficar ainda melhor.
“One”, um das mais belas músicas já escritas, abre o primeiro bis depois da tradicional fala de Desmond Tutu no telão. Para “Where The Streets have No Name”, Bono lê na colinha fixada no piso a frase “sou brasileiro e não desisto nunca”; antes, ele dedicara “Get On Your Boots” ao ex-jogador Ronaldo, que protagonizou uma campanha publicitária com este slogan. Com comecinho pré-gravado, o blockbuster “With or Without You” é a vedete do bis final, cujo encerramento vem com “Moment of Surrender” e o pedido de Bono para que todos “acendam” os celulares. A música é dedicada a todas às perdas familiares, e Bono volta a citar a tragédia de Realengo – no show de sábado, os nomes das vítimas firam exibidos no telão.
No show de domingo, o U2 bateu o recorde de faturamento que antes era dos Rolling Stones. O incansável grupo de Mick Jagger pode até fazer uma nova turnê e recuperar o posto, mas, com a “360º Tour”, o U2 prova que continua imbatível quando o assunto é inovação (musical e tecnológica) e permanência no topo do rock e da música pop. A dúvida que fica é: o que será que eles vão aprontar da próxima vez?
Set list completo
1- Even Better Than The Real Thing
2- I Will Follow
3- Get On Your Boots
4- Magnificent
5- Mysterious Ways
6- Elevation
7- Until The End Of The World
8- I Still Haven’t Found What I’m Looking For
9- Pride (In The name Of Love)
10- The Model
11- Beautiful Day
12- Miss Sarajevo
13- Zooropa
14- City of Blinding Lights
15- Vertigo
16- I’ll Go Crazy (remix)
17- Sunday Bloody Sunday
18- Scarlet
19- Walk On
Bis
20- One
21- Where The Streets Have No Name
Bis
22- Hold Me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me
23- With Or Without You
24- Moment Of Surrender
http://www.rockemgeral.com.br
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